Erradicação protege os maracujazeiros
A produção do maracujá encontra-se ameaçada. Mais de
61000 hectares estão plantados com maracujazeiros no Brasil, o maior
produtor mundial do fruto, e carecem de medidas que garantam a
preservação e maior durabilidade da cultura. Conhecida como
endurecimento do frutos, a doença em maracujazeiros causa enormes
prejuízos na produção e afeta o mercado das frutas.
Para
combater a doença, causada por um vírus (Cowpea aphid borne mosaic
virus - CABMV), disseminado pelos chamados pulgões, que atinge todas as
áreas produtoras de maracujá do país, o professor Jorge Alberto Marques
Rezende, do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) atua em um projeto
de cooperação com o professor Quelmo Silva Novaes, da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista. No início esse
projeto recebeu apoio da PNPD/Capes e FAPESP. Os professores dedicam-se a
avaliar a viabilidade prática e econômica da condução individual de
maracujazeiros em caramanchões, associada com a erradicação sistemática
das plantas doentes, semelhante ao que se faz há mais de 20 anos no
Brasil para o controle do mosaico do mamoeiro, em busca de um método
eficaz e duradouro para o controle dessa virose do maracujazeiro.
“O
vírus reduz a longevidade das plantas e provoca danos quantitativos e
qualitativos na produção. Um maracujazeiro pode durar até três anos, mas
a infecção com o vírus e sem um controle, pode chegar a pouco mais de
um ano”, conta o professor Rezende. A doença se manifesta com o sintoma
de mosaico na folha, redução da área foliar e da vida das plantas.
Para
avaliar a eficiência desse método, os professores compararam, em
Piracicaba e Vitoria da conquista, a infecção natural de maracujazeiro
conduzidos em caramanchões individuais, onde foram feitas inspeções
semanais para eliminação de plantas doentes, com a de maracujazeiros
conduzidos no processo convencional de espaldeiras de um fio de arame,
sem erradicação das plantas doentes (controle). “Erradicação é o método
mais eficaz, mas é preciso que o produtor fiscalize semanalmente a
cultura e arranque rapidamente as plantas infectadas” ressaltou.
A
utilização dos caramanchões separa as plantas uma das outras, evitando o
entrelaçamento das ramas, facilitando a identificação e eliminação da
planta doente. Além disso, constatou-se que houve uma economia de 50% na
área plantada no modelo de caramanchões. No entanto, conforme apontou o
Prof. Rezende, “a implantação de caramanchões possui um custo alto e
não é muito acessível”.
No
entanto, a aplicação dessa estratégia de manejo da doença pode ser
aplicada em qualquer sistema de condução das plantas, desde que
individualizadas para facilitar o trabalho de inspeções e erradicação
das plantas doentes”. Além disso, segundo o Prof. Rezende é possível que
a criatividade dos produtores leve ao desenvolvimento de um sistema
barato para a condução individualizada das plantas. É importante
ressaltar que esse sistema de manejo para o controle da doença não deve
ser aplicado em áreas que cultivam maracujazeiro de forma extensiva,
pois há muitas fontes de inóculo do vírus. Deve ser implantado
preferencialmente em áreas novas ou na recuperação da cultua em regiões
onde ela desapareceu devido a presença do vírus.
Resultados
Piracicaba -
Em setembro de 2013 foram transplantadas 100 mudas de maracujá na área
com caramanchões na Fazenda Areão, ESALQ, enquanto outras 56 mudas foram
transplantadas em janeiro de 2014 em área com espaldeiras de um fio de
arame no campo experimental do campus da ESALQ. As plantas são
inspecionadas semanalmente pelo professor Rezende. Até junho de 2015
foram erradicadas apenas seis plantas no espaço com caramanchões,
enquanto na área das espaldeiras, localizada a 2500 metros de distância,
onde não foi efetuada a erradicação, 100% das plantas estavam
infectadas em julho de 2014. “Onde fizemos a erradicação de plantas
doentes ainda temos 94 plantas sadias depois de 21 meses do transplante
das mudas no campo, enquanto na área controle perdemos todas as plantas
em menos de 6 meses”.
Vitória da Conquista - Nos
testes conduzidos pelo professor Quelmo S. Novaes, na Bahia, foram
realizados os mesmos procedimentos. Plantações com caramanchões e
espaldeiras em áreas distantes, ocorrendo a erradicação apenas na
primeira. Em setembro de 2014 foram transplantadas 100 mudas de maracujá
em cada área. Na plantação nos caramanchões, até março de 2015, 8
plantas doentes foram erradicas, enquanto nas espaldeiras todas as
plantas já estavam infectadas nessa data. Ao tomar conhecimento desse
resultado, o produtor Job Alvim Julião, de Anagé, BA, resolveu adotar a
erradicação para o manejo da doença na plantação de 60000 pés de
maracujá que transplantou em janeiro de 2015, em espaldeiras de um fio
de arame. Até agora erradicou 28 plantas, porém já notou que o
emaranhado das plantas dificulta e muito a identificação e eliminação
das plantas doentes. “Precisa individualizar, disse”. “Com a pesquisa,
foi possível comparar a durabilidade de uma plantação com erradicação
das plantas contaminadas com frequência, em relação a uma plantação onde
não é realizado nenhuma erradicação e o vírus é capaz de, em poucos
meses, disseminar e devastar completamente um maracujazal”, finalizou
Rezende.
Ana Carolina Brunelli
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