Manejo agroambiental

O expressivo crescimento da produção de cana-de-açúcar, no Brasil, nas últimas décadas, tem determinado importantes mudanças no que se refere ao aspecto agroambiental. Os números do setor canavieiro impressionam pela grande extensão da área cultivada. A cana-de-açúcar ocupa atualmente por volta de nove milhões de hectares de terras, o equivalente a 1,6% dos solos cultivados do Brasil, caracterizando um sistema de produção que tem especial significado econômico e social para o país. Um levantamento da oferta de cana-de-açúcar no mundo, referente ao período 1990-2000, consolida o Brasil e a Índia como líderes da produção. O País produz por volta de 370 milhões de toneladas de cana por ano, o que equivale a 27% da produção mundial. Nos últimos cinco anos o mercado cresceu, seguidamente, 10% ao ano, exigindo, dessa forma, planejamentos estratégicos e mudanças de tecnologia para garantir uma alta produtividade, competitividade e harmonia com as questões ambientais. Em média, 55% da cana brasileira é convertida em álcool e 45% em açúcar. As receitas em divisas variam entre 1,5 bilhão a 1,8 bilhão de dólares por ano, representando cerca de 3,5% do total das exportações brasileiras.
São Paulo é o maior produtor com uma área de, aproximadamente, 4,5 milhões de hectares, envolvendo mais de 350 municípios que são considerados canavieiros. Essa atividade empregou diretamente 235 mil trabalhadores na safra 99/2000 e por volta de 80 mil na agroindústria do açúcar, álcool e aguardente, totalizando 315 mil pessoas ocupadas nessa atividade. Em 2014 somente áreas com declividade elevada (maiores que 12%) serão colhidas manualmente. Na região de São João do Rio Preto, já são 70% do corte mecanizado, e na região de Ribeirão Preto, a colheita de cana sem despalha a fogo girou por volta de 60%. A conservação do solo ainda é uma preocupação no estudo de Terraços embutidos e invertidos em solos, cujo seu perfil tem um gradiente acentuado de argila na sua composição do Horizonte B, logo abaixo (50cm) da superfície, formando o perfil característico de Argissolos, predominante na região norte paulista, com altíssimas produtividades como na região de Catanduva, Olímpia.
O cultivo da cana-de-açúcar é bastante complexo, podendo ser obtido de um único plantio quatro a seis cortes, com boa produtividade, sendo que após cada ciclo deve se fazer altos investimentos para que a renovação do canavial proporcione boa produtividade da colheita seguinte. Dentre esses investimentos, encontra-se o custo com defensivos para o controle de insetos pragas e ervas daninhas, que podem provocar algumas injúrias. Esses produtos podem elevar o custo da cultura, apresentam persistência prolongada no ambiente, podendo eliminar partes significativas de populações de organismos benéficos e, ainda, serem levados pelas águas das chuvas, pelo processo de lixiviação, para mananciais aquáticos. Na atualidade, tanto a comunidade científica quanto a sociedade civil têm se preocupado com as questões ambientais e a preservação da vida no planeta. Assim, surge a perspectiva do cultivo orgânico da cultura da cana-de-açúcar. Entretanto, sob a orientação de um especialista na área, tal prática pode ser minimizada em relação aos efeitos deletérios no ambiente. Isso tem levado os produtores a adequar a atividade agrícola a uma ação que seja ambientalmente correta e economicamente viável, crescendo a procura por métodos alternativos ao controle químico, abrindo, desta forma, grande oportunidade para a implementação de pesquisas com agentes de controle biológico.
Além disso, a cana energia é muito importante no contexto dos dias atuais falando-se em bioenergia, ou produtividade de fitomassa, com uma cana com maior teor de fibra, graças ao Programa de Melhoramento Genético do IAC/Ribeirão Preto, São Paulo, onde fica situado o Centro de Cana, trabalha-se para incrementos na produtividade e teor de sacarose também. Com rotação de culturas, tais como soja, crotalária, amendoim, girassol e até mesmo o milho, os gastos com defensivos podem ser minimizados e a cultura da cana ainda mais valorizada.
O preparo do solo tem por objetivo a melhoria das propriedades físicas e químicas para garantir a brotação, o crescimento radicular e o estabelecimento da cultura. Como a cultura da cana-de-açúcar é altamente mecanizada, prevê-se que por volta de três dezenas de operações ocorrem em um mesmo talhão ao longo de cinco anos. É inevitável que o solo esteja mais compactado ao longo dos anos do canavial, principalmente quando não se observa o teor de água no solo. A reforma do canavial ocorre, em média, a cada cinco anos, mas, dependendo da produtividade, pode ser adiada para sete, oito ou mais anos. Há exemplos de Latossolo Vermelho Eutroférrico, que chegaram a ter na região de Ribeirão Preto nove cortes com boa produtividade. Sendo assim, o preparo do solo é, então, uma questão fugaz nos tratos culturais da usina, pois a próxima oportunidade levará alguns anos, determinando até mesmo a longevidade do canavial. Ou seja, se for adotada alguma prática inadequada, os problemas resultantes permanecerão por um bom tempo e as consequências surtirão efeito. Desta forma, o teor de água, o momento de entrar com os implementos e a granulometria do solo (textura) são alguns aspectos que não podem deixar de ser observados.
Todas as etapas do preparo do solo são importantes. As práticas para a correção do solo como calagem, gessagem e fosfatagem, que propiciarão boas condições para o crescimento radicular, o controle de plantas daninhas, as operações de sulcação-adubação, o preparo da muda, entre outros, colaboram para o sucesso do plantio, do estabelecimento e da produtividade da cultura.
Todavia, sabe-se que o revolvimento do solo eleva muito sua oxigenação, aumentando, também, a atividade microbiana, com consequentes perdas de carbono para a atmosfera e da própria perda em matéria orgânica do solo e nutrientes para os mananciais, o que pode eutrofizá-los, aumentando até mesmo a população de plantas aquáticas nos cursos de água, o que diminui sua vazão, contribuindo para o comprometimento destes mananciais e até mesmo gerando assoreamento de seus leitos.
Contudo, as técnicas de plantio direto e cultivo mínimo, quando possíveis e indicadas, aumentam a contribuição da cultura da cana-de-açúcar na questão ambiental, por reduzirem perdas de carbono para a atmosfera, fazendo com que o carbono que foi "mitigado" da atmosfera pela cana, durante a fotossíntese, fique estocado no compartimento do solo. Tais técnicas contribuem, também, para aumentar esse estoque, a não queimada da cana antes da colheita e a manutenção da fitomassa em cobertura no campo. Além do que existem relatos de que só o fato de se deixar palha na superfície, contribuirá para esta mitigação, cabendo ressaltar que o que deve ser contabilizado na verdade é o balanço, ou seja, a diferença entre o que foi emitido e o que foi drenado.

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Sandro Roberto Brancalião; Carolina CattaniNajm

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