|
|
(foto de Walter Craveiro)
|
|
Terceiro dia
O historiador Boris Fausto abriu o terceiro dia de Flip, neste 3 de
julho, com uma conversa sobre a matéria-prima literária de seu último
livro Brilho do Bronze , sobre memórias que narram seu processo
de luto após a morte da mulher, a educadora Cynira Stocco Fausto, com
quem foi casado por 49 anos. Ao longo do debate, as reflexões sobre
morte e dor deram lugar aos apontamentos do intelectual sobre o ofício
de historiador, alguns episódios da história do Brasil e a atual
conjuntura política do país.
Da origem do termo “pauliceia desvairada” à proclamação do modernismo, a
mesa seguinte -- que investigou a São Paulo de Mário de Andrade --
formulou um apanhado sobre a cidade que jamais teria sido a mesma sem a
participação daquele que, como disse o cineasta e ensaísta Carlos
Augusto Calil, foi o primeiro secretário de Cultura do Brasil. Além de
Calil, o jornalista e colunista Roberto Pompeu de Toledo fez parte de
“São Paulo! comoção de minha vida…”.
Percorrendo os meandros da história do Brasil, a mesa bônus com as
historiadoras Heloisa M. Starling e Lilia M. Schwarcz transcorreu como
uma aula sobre os grandes temas que repercutem na identidade nacional.
Autoras do recém-lançado “Brasil, uma biografia”, a dupla estruturou uma
conferência em torno de dois tópicos que atravessam os séculos: a
escravidão como um sistema estruturante da sociedade brasileira e os
vários significados assumidos pelo conceito de liberdade ao longo do
tempo.
Primeira mesa sobre ciência desta edição da Flip, “As ilusões da mente”
trouxe à Tenda dos Autores o economista e filósofo Eduardo Giannetti e o
neurocientista Sidarta Ribeiro, num encontro animado e vigoroso sobre
as descobertas recentes no campo da neurociência. Sidarta afirmou que
estamos a caminho de entender o que é a consciência e como ela funciona.
Para Gianneti, o mistério da condição do ser humano só se agrava. "A
ciência realmente machuca a autoestima humana”, completou.
A mesa “Escrever ao Sul” reuniu o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o e o
australiano Richard Flanagan. Preso por ter escrito, nos anos 1970, uma
peça teatral em sua língua nativa, Thiong’o foi investigado sobre um
recurso comum em sua prosa: colocar o leitor na mente do opressor--
característica também presente na obra mais recente de Flanagan.
Thiong'o afirmou então que, como escritor, seu interesse é pela
contradição.
O uso de lembranças pessoais e afetivas na literatura foi central na
mesa “Amar, verbo transitivo”, da qual participaram Ana Luisa Escorel e a
americano-israelense Ayelet Waldman. “É preciso gostar e apreciar
nossas próprias memórias para reproduzi-las num livro”, disse Waldman.
Igualmente franca, Ana Luisa Escorel emocionou-se ao falar sobre a
relação que sempre teve com seus pais -- o crítico literário Antonio
Candido e a filósofa e ensaísta Gilda de Mello e Souza --, matéria-prima
de um livro da autora.
Taras literárias e libertinagens em geral estiveram na mesa “Os
Imoraes”, com Reinaldo Moraes e Eliane Robert Moares. Autora de ensaios
sobre erotismo na literatura, Eliane afirmou que Hilda Hilst e Mário de
Andrade influenciaram sua escolha pelo erótico. Bem-humorado, Reinaldo
leu um texto libidinoso feito especialmente para esta edição da Flip,
sob a afirmação de ter “psicografado” uma mensagem do machadiano Brás
Cubas.
FlipMais
Com uma programação que percorreu teatro, poesia, audiovisual e
educação, a sexta-feira da FlipMais movimentou os ânimos do público no
auditório da Casa da Cultura. No primeiro debate do dia, práticas de
mediação de leitura e suas políticas foram discutidas por Marta Porto,
Rona Haning e Vera Schroeder. Durante o “Poesia em Movimento recebe
Eucanaã Ferraz”, o poeta esteve em episódio da série do Philos TV e
também presente para uma conversa sobre poesia e estrutura lírica.
Série dirigida por Tatiana Lohmann e exibida dentro do projeto “Noites
de Cinema”, “A vida começa” retrata a rotina de um pintor de São Paulo,
que faz desenhos reveladores sobre seu futuro. Encerrando a noite, e
conjugando técnicas de dança e circo, o espetáculo “O Descotidiano“ – do
grupo Cia do Relativo – deixou crianças e adultos atônitos com a
mistura de lirismo e humor. |
Comentários
Postar um comentário