Presidente de empresa em recuperação judicial diz que BNDES será ressarcido até 2023
Em 2011, o banco emprestou R$ 700 milhões à Lácteos Brasil (LBR), companhia que entraria em concordada dois anos depois
O BNDES
poderá reaver até 2023 os R$ 700 milhões (mais juros e correções)
injetados na Lácteos Brasil (LBR) em 2011. A afirmação foi feita pelo
presidente da empresa de laticínios, Nelson Sampaio Bastos, em
depoimento nesta quinta-feira (29) à CPI que investiga denúncias de irregularidades em operações do BNDES.
Em 2013, a LBR, que fora criada dois anos antes a partir da fusão das empresas Bom Gosto e LeitBom, entrou com pedido de recuperação judicial, devido ao seu endividamento crescente.
Bastos argumentou que o contrato assinado com o BNDES para pagamento
dos empréstimos vem sendo “cumprido à risca”. Ele informou que, para
fazer frente ao acordo, que vence em 2023, a LBR colocou seu parque
industrial à venda por R$ 660 milhões, sob a condição de que os antigos
funcionários da companhia fossem contratados pelos novos donos.
“A LBR vai sobreviver, como uma empresa muito menor, tendo conseguido preservar o direito de 100% dos empregados e permitir que produtores de leite continuem a servir os novos compradores”, afirmou Bastos. Ele disse ser “plenamente viável” que a empresa salde suas dívidas e volte a operar no mercado.
Análise inviável
Para o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), no entanto, a análise do dirigente não parece viável. “A LBR teve suas ações desvalorizadas em 95%, de 2011 a 2012, com prejuízos de mais de R$ 800 milhões ao BNDES”, comentou. “Alguma coisa não bate nesse raciocínio e precisa ser esclarecida fora das explicações técnicas que são propagadas aqui em verso e prosa”, completou.
Bastos, por sua vez, explicou que, na operação com a LBR, o BNDES não apenas ofertou empréstimo a juros baixos, como também passou a controlar a empresa. “Não se tratou de incentivo, foi um aporte de capital, algo mais forte do que um incentivo porque a empresa se torna sócia.”
Ele informou que as linhas de crédito liberadas pelo banco (R$ 250 milhões em debêntures e R$ 450 milhões de capital) se destinavam a saldar dívidas da ordem de R$ 1 bilhão acumuladas desde a fusão entre LeitBom e Bom Gosto, em 2011, negócio que deu origem à empresa.
Na época, segundo informou, a estimativa era de que a nova companhia teria faturamento de R$ 3 bilhões e captação anual de mais de R$ 2 bilhões de litros de leite.
Problemas
Bastos admitiu, porém, que os aportes feitos pelo BNES em 2011 não foram suficientes para que a empresa continuasse operante nos dois anos seguintes. “Tivemos problemas muitos sérios na infraestrutura da indústria, como fraude por intermediários na compra de leite. Isso bloqueou operações da empresa, com a desorganização do suprimento”, justificou Bastos o pedido de restruturação judicial.
O presidente da LBR acrescentou que a retenção, pela Receita Federal, de R$ 530 milhões em créditos tributários (PIS/Cofins) agravou ainda mais a situação da companhia, que já acumulava dívida de mais de R$ 1 bilhão em 2012. “Esse dinheiro dos tributos pertence aos acionistas, mas está nas mãos do governo federal e ainda não foram pagos”, frisou. Por essa razão, de acordo com ele, a empresa teve de contratar financiamentos anuais da ordem de R$ 100 milhões, valor acima da receita anual.
Tráfico de influência
Sobre a hipótese de influência política na seleção de projetos pelo BNDES, Bastos limitou-se a afirmar que não tomou conhecimento sobre essas práticas durante sua gestão. Ele também negou conhecer o possível vínculo do ex-presidente Lula e de seu filho, Luiz Cláudio, na facilitação dos empréstimos. “Garanto que esse fato não ocorreu dentro da LBR”, reforçou.
Já na avaliação do deputado João Gualberto (PSDB-BA), afinidades
políticas levaram o BNDES a assumir risco alto no setor de laticínios.
“É muito estranho que um banco como o BNDES injete mais de R$ 800
milhões e, dois anos depois, a empresa quebre”, apontou. “Não é razoável
pensar que houve falha no diagnóstico, como alegam os técnicos do
banco, pois os processos são muitos rigorosos”, concluiu.
“Não foi só o BNDES que tomou essa decisão, outros grupos grandes foram pelo mesmo caminho”, rebateu o presidente da LBR. “Acho difícil que alguém que tivesse feito esse diagnóstico soubesse dos mais de R$ 500 milhões (créditos tributários retidos na Receita) que seriam subtraídos”, afirmou.
O deputado Carlos Melles (DEM-MG), por sua vez, sustentou que há viés político por trás dos créditos subsidiados. “A Itambé, que é a mais saudável do Brasil, tinha dívida de R$ 450 milhões e a JBS [frigorífica financiada pelo BNDES] adquiriu o débito”, relatou. “Na mesma hora, a Itambé passou a ter créditos nunca vistos e juros ofertados com facilidade, o que demonstra um claro tráfico de influência”, opinou.
Em 2013, a LBR, que fora criada dois anos antes a partir da fusão das empresas Bom Gosto e LeitBom, entrou com pedido de recuperação judicial, devido ao seu endividamento crescente.
Gilmar Felix - Câmara dos Deputados
Nelson Sampaio Bastos: retenção, pela Receita, de R$ 530 milhões em créditos tributários agravou situação da empresa
“A LBR vai sobreviver, como uma empresa muito menor, tendo conseguido preservar o direito de 100% dos empregados e permitir que produtores de leite continuem a servir os novos compradores”, afirmou Bastos. Ele disse ser “plenamente viável” que a empresa salde suas dívidas e volte a operar no mercado.
Análise inviável
Para o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), no entanto, a análise do dirigente não parece viável. “A LBR teve suas ações desvalorizadas em 95%, de 2011 a 2012, com prejuízos de mais de R$ 800 milhões ao BNDES”, comentou. “Alguma coisa não bate nesse raciocínio e precisa ser esclarecida fora das explicações técnicas que são propagadas aqui em verso e prosa”, completou.
Bastos, por sua vez, explicou que, na operação com a LBR, o BNDES não apenas ofertou empréstimo a juros baixos, como também passou a controlar a empresa. “Não se tratou de incentivo, foi um aporte de capital, algo mais forte do que um incentivo porque a empresa se torna sócia.”
Ele informou que as linhas de crédito liberadas pelo banco (R$ 250 milhões em debêntures e R$ 450 milhões de capital) se destinavam a saldar dívidas da ordem de R$ 1 bilhão acumuladas desde a fusão entre LeitBom e Bom Gosto, em 2011, negócio que deu origem à empresa.
Na época, segundo informou, a estimativa era de que a nova companhia teria faturamento de R$ 3 bilhões e captação anual de mais de R$ 2 bilhões de litros de leite.
Problemas
Bastos admitiu, porém, que os aportes feitos pelo BNES em 2011 não foram suficientes para que a empresa continuasse operante nos dois anos seguintes. “Tivemos problemas muitos sérios na infraestrutura da indústria, como fraude por intermediários na compra de leite. Isso bloqueou operações da empresa, com a desorganização do suprimento”, justificou Bastos o pedido de restruturação judicial.
O presidente da LBR acrescentou que a retenção, pela Receita Federal, de R$ 530 milhões em créditos tributários (PIS/Cofins) agravou ainda mais a situação da companhia, que já acumulava dívida de mais de R$ 1 bilhão em 2012. “Esse dinheiro dos tributos pertence aos acionistas, mas está nas mãos do governo federal e ainda não foram pagos”, frisou. Por essa razão, de acordo com ele, a empresa teve de contratar financiamentos anuais da ordem de R$ 100 milhões, valor acima da receita anual.
Tráfico de influência
Sobre a hipótese de influência política na seleção de projetos pelo BNDES, Bastos limitou-se a afirmar que não tomou conhecimento sobre essas práticas durante sua gestão. Ele também negou conhecer o possível vínculo do ex-presidente Lula e de seu filho, Luiz Cláudio, na facilitação dos empréstimos. “Garanto que esse fato não ocorreu dentro da LBR”, reforçou.
Gilmar Felix - Câmara dos Deputados
Para o deputado Carlos Melles, há influência política nas operações do BNDES
“Não foi só o BNDES que tomou essa decisão, outros grupos grandes foram pelo mesmo caminho”, rebateu o presidente da LBR. “Acho difícil que alguém que tivesse feito esse diagnóstico soubesse dos mais de R$ 500 milhões (créditos tributários retidos na Receita) que seriam subtraídos”, afirmou.
O deputado Carlos Melles (DEM-MG), por sua vez, sustentou que há viés político por trás dos créditos subsidiados. “A Itambé, que é a mais saudável do Brasil, tinha dívida de R$ 450 milhões e a JBS [frigorífica financiada pelo BNDES] adquiriu o débito”, relatou. “Na mesma hora, a Itambé passou a ter créditos nunca vistos e juros ofertados com facilidade, o que demonstra um claro tráfico de influência”, opinou.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Marcelo Oliveira
Edição – Marcelo Oliveira
Comentários
Postar um comentário