Da aspereza do chão à leveza do andar

“InstHabilidade”, espetáculo dos mineiros do 1º Ato, faz refletir sobre os aspectos físicos e filosóficos da queda
Ficar de pé, cair e levantar é um dos processos definidores da condição humana, marco de quando nos tornamos bípedes e dissemos adeus à linha de primatas ancestrais. Ficar de pé, cair e levantar também é uma das principais fronteiras do crescimento a ser cruzada, momento de passar de bebê à criança, do colo à independência dos passos. No campo das artes, ficar de pé, cair e levantar é a tríade inaugural da dança, sem a qual não há movimento, nem coreografia, nem espetáculo. É assim, voltando ao básico para explorá-lo ao limite, que o Grupo de Dança 1º Ato explode no palco com a montagem “InstHabilidade”, atração desta quinta-feira (8), no Circo Funcart, às 20h30, e um dos destaques do Festival de Dança 2015.

Ao todo, oito bailarinos se revezam em cena, construindo uma narrativa visual sobre a firmeza dos passos versus o desequilíbrio da vida, entre quedas e ressurgimentos bem marcados, sob a direção segura de Alex Dias e Suely Machado. A trilha sonora, permeada por notas em tom crescente, reforça a necessidade de verticalização e o figurino neutro minimiza a diferença entre os corpos, “democratizando” a ideia de altos e baixos, que não poupam homens e mulheres, independente da idade, da condição social ou nível de renda. De viés universal, a sequência de derrocadas dos dançarinos traduz a certeza de que toda vitória é efêmera e nenhum tropeço é eterno.

Sob a ótica do balé, tombo e ascensão também formam um resumo possível da história de cada um dos profissionais da companhia mineira, que fazem da instabilidade e do reequilíbrio seu metiê diário, indo ao chão tantas vezes quanto necessário, até transformar o erro em beleza, a queda em perfeição sobre a queda. Afinal, habilidade também é palavra-chave no título da montagem.

Criada em Belo Horizonte em 1988, a 1º Ato se notabilizou pelo processo coletivo de elaboração dos espetáculos. Todos os bailarinos da companhia participam das etapas criativas da montagem, desde a pesquisa de temas, passando pelo estudo dos passos até a constituição das cenas. Um modelo também adotado em Insthabilidade, 18º espetáculo do grupo, que opõe o andar ereto, elegante, de certo modo conscientemente soberbo do dançarino ao abandono da queda, ao tombo como desconstrução da postura.

Mas essa obstinação da montagem no desmoronamento do corpo é, sobretudo, um elogio à resistência. De fato, há que se notar o papel da perseverança na biografia dos seres que andam, dessa teimosia encravada na alma. Quando nada mais dá certo e já não há caminhos possíveis, cair e levantar é a superação que nos resta. Física e metaforicamente, continua sendo o que nos define como humanos.

O Festival de Dança de Londrina tem patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina, por meio do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), e da Caixa Econômica Federal. O evento é uma realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná), com apoio institucional da Funcart. Apoio: Fecomércio Paraná/Sesc; Kinise Dancewear; Shop Ballet/Só Dança; Usina Cultural; Bar Valentino; Rádio UEL FM; Folha de Londrina; RPC-Rede Paranaense de Comunicação e Quizomba


Ficha técnica
Concepção e Direção coreográfica: Alex Dias e Suely Machado
Pesquisa de movimento: Alex Dias
Encenação: Suely Machado.
Figurino: Pablo Ramon
Bailarinos: Alex Dias, Ana Virgínia Guimarães, Danny Maia, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramon, Vanessa Liga e Marcella Gozzi
Assistente de Direção: Marcela Rosa
Maitre de ballet: Betina Bellomo
Produção: Regina Moura
Concepção de luz: Nadja Naira
Técnico de luz: Ricardo da Mata
Técnico de som: Fabrício Galvani

Serviço Geral:
13º Festival de Dança de Londrina

De 2 a 11 de outubro de 2015
Espetáculos e oficinas
Programação detalhada no site:
www.festivaldedancadelondrina.art.br

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