Agência da ONU alerta para crianças vulneráveis na caravana da América Centralpor ONU Brasil |
Quando uma gangue criminosa queimou a residência de sua família em Honduras, Eduardo, de 16 anos, sentiu que não tinha outra escolha a não ser correr para salvar sua vida. “Quando vi nossa casa em chamas, sabia que havia chegado o momento e que nossa sorte havia acabado. Era momento de fugir”, conta o jovem. O adolescente é um dos integrantes da "caravana" de refugiados e migrantes que atravessam a pé a América Central rumo ao México.
Depois de viver com o medo constante de ser morto ou recrutado por bandidos na cidade de Colón, Eduardo e os primos decidiram deixar seu o território hondurenho em busca de uma vida com segurança. Após chegarem à nação vizinha, a Guatemala, os parentes tentaram atravessar a ponte sobre o rio Suchiate, para entrar no México. Foi neste momento que as autoridades fecharam a fronteira e os confrontos começaram.
A “caravana”, estimada em mais de 7 mil pessoas, já é o segundo fluxo migratório organizado na América Central desde o início de 2018. O primeiro se deslocou pela região em abril, também com destino ao México.
Na Guatemala, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) está monitorando a fronteira de Tecun Uman. As equipes estão avaliando as necessidades mais urgentes dos que chegam ao perímetro. Junto com instituições parceiras, o organismo internacional tem prestado assistência humanitária aos mais vulneráveis.
O ACNUR também tem mobilizado funcionários e recursos para o sul do México. Desde a semana passada, mais de 45 profissionais da agência estão em Tapachula, na capital do estado de Chiapas. Mais equipes estão a caminho.
Eduardo recebeu permissão para entrar no território mexicano, onde solicitou refúgio. O organismo da ONU quer garantir que o direito de requerer asilo seja respeitado para os demais integrantes da caravana. Para isso, o ACNUR está apoiando as autoridades mexicanas, com a disponibilização de pessoal e auxílio técnico. O objetivo é garantir o registro dos pedidos de refúgio. A instituição também tem ajudado o México com a criação de mecanismos de identificação, a fim de encaminhar pessoas com vulnerabilidades específicas para serviços de assistência. A agência está aumentando a assistência para abrigar os deslocados.
“As principais preocupações do ACNUR neste momento são as questões humanitárias no decorrer dos acontecimentos e os riscos, já conhecidos, de sequestro e segurança nas direções em que a caravana pode ir”, disse o porta-voz Adrian Edwards.
“Estabilizar a situação se tornou urgente. É essencial que a recepção seja garantida e que haja condições adequadas para receber aqueles que buscam refúgio e outras pessoas em situação de deslocamento."
A maioria das pessoas que viajam na caravana estão em grupos familiares, muitos deles com bebês e crianças pequenas. Seu bem-estar é motivo de preocupação entre organizações humanitárias por causa do calor extremo nas planícies tropicais de Chiapas, onde as temperaturas alcançaram o pico de 32°C esta semana. A umidade na região também está alta.
Na fronteira com o México, o aconselhamento do ACNUR fez com que algumas crianças desacompanhadas e separadas de seus responsáveis decidissem solicitar refúgio na Guatemala, em vez de permanecer em solo mexicano.
A agência também está monitorando os retornos e deportações da Guatemala, para assegurar que essas decisões estão sendo voluntárias. O organismo espera respeito ao princípio fundamental da não devolução por parte das autoridades de todas as nações envolvidas.
“O ACNUR gostaria de lembrar os países da alta probabilidade de que esta caravana inclua pessoas que estão em verdadeiro perigo”, enfatizou Edwards. “Em situações como essa, é essencial que as pessoas tenham a chance de solicitar refúgio e de ter suas necessidades de proteção devidamente atendidas antes que qualquer decisão sobre retorno ou deportação seja feita.”
Eduardo está recebendo comida, assistência médica e abrigo no sul do México. Enquanto seu pedido de refúgio está sendo analisado, o jovem pensa muito em sua irmã, que preferiu ficar em Honduras. Lá, ela continua em risco devido à violência das gangues.
“Minha irmã e eu somos inseparáveis. O que mais sinto falta é ouvir sua voz todos os dias. Eu me preocupo que um dia sua sorte acabe.”
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