O governo e seu saco de maldades!
No
decorrer do ano de 2014, face o andar da carruagem, não era nenhuma
novidade que teríamos um ano de 2015 bastante complicado, com forte
ajuste fiscal e retração econômica.
No
mês de fevereiro/14, neste mesmo espaço, chamávamos a atenção para as
primeiras medidas anunciadas pelo governo que, em busca do ajuste
fiscal, já havia anunciado a elevação de IOF nos financiamentos, o
aumento dos juros para financiamento da casa própria, a volta da CIDE
nos combustíveis e a não correção plena da tabela do imposto de renda. O
título daquele artigo era “O que vem pela frente?”.
E
não é que, passado menos de um mês, veio mais um pacote de maldades?!
Desta vez, pegou em cheio a já combalida indústria de transformação.
Agora, a bola da vez foi a desoneração da folha de pagamento (a alíquota
foi de 1% para 2,5% do faturamento, o que representa um aumento de
150%) e a redução do REINTEGRA (o percentual que era devolvido às
empresas exportadoras, para compensar aqueles impostos não recuperáveis
que incidem na cadeia produtiva, caiu de 3% para 1%. Ressalte-se que a
devolução do REINTEGRA, para compensar minimamente os impostos que se
pagam ao longo da nossa cadeia, deveria ser de no mínimo 6%, e a subida
da alíquota na desoneração da folha praticamente neutralizou seu efeito
benéfico).
Vale
ressaltar ainda que a desoneração da folha, o PSI-FINAME e o REINTEGRA
eram as mais importantes medidas que foram implementadas por este mesmo
governo para minimizar a perda de competitividade da indústria nacional.
Se a indústria já vinha capengando com essas importantes e acertadas
medidas, podemos afirmar que o cenário daqui para frente será tenebroso!
Se
o ajuste fiscal é necessário, e acreditamos que seja, a pergunta que se
faz é: Será que ele só é viável às custas da sociedade e da indústria
brasileira? Será que não há outras formas não tão recessivas, que
penalizem menos a produção e o emprego?
Nós,
da ABIMAQ, estamos convictos que sim, afinal, qual está sendo a
contribuição do governo para este ajuste? Onde está o anúncio de um
programa de redução de gastos do governo, de melhoria da eficiência da
máquina pública, por exemplo, da diminuição dos cargos comissionados
(que é um cabide de empregos para atender partidos políticos),
diminuição do número de ministérios, privatização de serviços públicos e
redução de tantas outras despesas possíveis? E o que se gasta, então,
com o pagamento de juros da dívida pública? (Cada ponto percentual de
aumento da SELIC representa um gasto adicional anual da ordem de R$ 10
bilhões para os cofres públicos. No ano, o governo gasta cerca de R$ 300
bilhões só com o pagamento de juros).
Lamentavelmente,
não há nada nesta direção, não há nada que sinalize o início das
reformas estruturais que tanto o país necessita, não há nenhuma proposta
de política industrial que possa recolocar o país no rumo da
competitividade.
Há,
sim, uma desarticulação entre os poderes executivo e legislativo,
claramente sem rumo, preocupados mais em preservar e até aumentar suas
benesses – a Câmara dos Deputados teve o desplante de aprovar, no meio
desta crise, aumento de verbas para os parlamentares levarem suas
esposas em viagens oficiais, mergulhando o país na desesperança. E, na
falta de direção para onde seguir, faz o mais fácil (para ele, governo),
o que exige menos trabalho, comprometimento e sacrifício, que é o
aumento de impostos sobre as pessoas e sobre as empresas.
Será
que o governo não se dá conta de que a sociedade já não aguenta mais
pagar essa conta? Será que o governo não compreende que este ajuste,
somente à base de aumento de impostos, jogará o país em uma espiral
recessiva, com mais retração da atividade produtiva, aumento do
desemprego e, consequentemente, diminuição da arrecadação para o próprio
governo?
É preciso compreender que a indústria, responsável por 38% da arrecadação de impostos, está agonizando, está na UTI.
Será que não há outras saídas para o governo, que não seja matar a galinha dos ovos de ouro?
Acreditamos que sim, mas tem que haver coragem e vontade política, e tem que ser rápido, antes que a galinha morra!
Carlos Pastoriza
Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ / SINDIMAQ
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