Pesquisa identifica nematoide causador da Soja Louca 2
O nematoide Aphelenchoides. sp foi apresentado como
agente causador da soja louca 2, doença que pode comprometer em até 60% a
produtividade em lavouras de soja. A apresentação foi feita por
pesquisadores da Embrapa e da Epamig, durante 7º Congresso Brasileiro de
Soja, em Florianópolis (SC). A anomalia, que desde 2005 preocupa
produtores nacionais de soja, teve forte incidência, principalmente, nas
regiões produtoras mais quentes do Brasil, nos estados do Maranhão,
Tocantins, Pará e Mato Grosso.
A
doença provoca redução da produtividade em função do elevado índice de
abortamento de flores e vagens e do alto percentual de desconto no valor
da soja, devido a presença de impurezas, ou seja, pedaços de tecido
verde e grãos podres, que propiciam apodrecimento da massa de grãos. Os
maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior
frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.
Desde
2011, a Embrapa Soja desenvolve projeto de pesquisa multidisciplinar em
parceria com várias outras instituições, com o objetivo de investigar
as possíveis causas da doença e dar suporte ao monitoramento da
ocorrência do problema no Brasil. O pesquisador da Embrapa Soja Maurício
Meyer explica que os sintomas desta doença foram reproduzidos em
plantas sadias, inoculadas com Aphelenchoides sp., indicando que a
presença deste gênero de nematoide tem implicações na manifestação do
problema.
Segundo Maurício, após exaustivos
estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas
por ácaros ou vírus. O estudo observou ainda que sistemas de cultivo com
rigoroso controle de plantas invasoras, em pré e pós semeaduras, têm
revelado maiores reduções da incidência de soja louca 2.
De
acordo com a pesquisadora da EPAMIG Luciany Favoreto, que há 15 anos
estuda nematoides da parte aérea das plantas, a grande maioria dos
fitonematoides são encontrados no solo. “Essa descoberta causou
estranheza na comunidade científica quando anunciada, já que até então,
espécies de Aphelenchoides eram conhecidas apenas como causadoras de
doenças em arroz, morango, crisântemo e feijão. Na parte área da soja é o
primeiro relato”, explica.
Luciany
explica ainda que plantas com sintomas de soja louca 2 foram analisadas
no laboratório de Nematologia da EPAMIG, em Uberaba, de março a junho
de 2015. "Com uma população pura do nematoide foi possível realizar o
estudo conhecido como 'Postulado de Koch', que preconiza que o patógeno
vindo de uma cultura pura deve ser inoculado em plantas sadias da mesma
espécie ou variedade na qual apareceu, e deve provocar a mesma doença
nas plantas inoculadas. “Após 12 dias da inoculação do patógeno em
plantas sadias, em nosso laboratório, estas começaram a apresentar os
mesmos sintomas das plantas doentes. Desta forma, provou-se que o
Aphelenchoides sp. é o provável agente causador da Soja louca 2”, diz a
pesquisadora. Ela acrescenta que as populações puras, que estão sendo
multiplicadas no laboratório de Nematologia da EPAMIG, em Uberaba, serão
úteis para estudos posteriores sobre a patogenicidade e a taxonomia.
Segundo
os pesquisadores, a descoberta do agente causal foi um passo importante
para as comunidades científica e rural, mas ainda é preciso identificar
as espécies do grupo Aphelenchoides. “Vamos realizar mais estudos com o
objetivo de investigar formas de sobrevivência dos nematoides, plantas
hospedeiras alternativas, colonização e infecção na soja, para que o
sojicultor possa adotar medidas de controle e conviver com esta doença
no campo”, concluem.
Foto:
Pesquisadores Luciany Favoreto e Maurício Meyer apresentaram agente
causador da soja louca 2 durante Congresso Brasileiro de Soja (Crédito:
Samantha Mapa)
Samantha Mapa
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