IMS-SP abre exposição dedicada ao fotógrafo peruano Martín Chambi (1891-1973)
O Instituto Moreira Salles apresenta
a partir de 2 de outubro, em seu centro cultural de São Paulo, a exposição Face andina – Fotografias de Martín Chambi no acervo do
Instituto Moreira Salles. A mostra traz 88 fotografias e 23 postais do fotógrafo
peruano Martín Chambi (1891-1973), apresentando os
principais temas de sua documentação do Peru, como retratos de estúdio,
paisagens e cenas do ambiente urbano e rural de Cusco, Arequipa e Puno entre as
décadas de 1910 e 1960.
Martín Chambi nasceu no povoado de Coasa, província de Carabaya,
departamento de Puno, próximo ao lago Titicaca. Começou a fotografar ainda
jovem, ao obter uma colocação como assistente de fotógrafo na Mineradora Santo
Domingo, na cidade de Cambaya, para onde seus pais se mudaram impulsionados
pelo ciclo do ouro na região. Já em Arequipa, em 1908, teve como mestre Max T.
Vargas, célebre fotógrafo local, com quem trabalhou até montar seu próprio
estúdio, em Sicuani, nove anos depois.
Na ocasião, publicou, de forma pioneira no Peru, seus
primeiros cartões-postais. se dedicou a registrar a população nativa do país,
principalmente as etnias Quéchua e Aymará. Por sua origem indígena, Chambi, buscou
uma abordagem diferenciada da forma exótica comum à época. Registrou a
humildade da vida andina sem desrespeitá-la, tornando seu trabalho reconhecido
mundialmente, tanto pelo caráter etnográfico quanto pelo aspecto artístico. Um
dos primeiros a fotografar Machu Picchu, a cidade sagrada dos incas, descoberta
em 1911, Chambi ficou também conhecido como fotojornalista, tendo trabalhado
nos jornais locais de Cusco. Teve também fotos publicadas em outros países,
como no jornal argentino La Nación e
na revista National Geographic.
Chambi entendeu o Peru como uma nação mestiça e
multicultural, rica em diversidade. Nas suas frequentes viagens pelos Andes,
capturou imagens impressionantes de ruínas incas, bem como a cor local das
paisagens desoladas e seus habitantes. Ele conseguiu mesclar a tradição
europeia, próxima da pintura, com os retratos em estúdio. Chambi lançou um
olhar antropológico e simultaneamente terno sobre o lado mais esquecido do país
– aquele habitado pelos povos de origem pré-colombiana. O uso da luz natural e
seu sentido de composição engrandeceram as imagens e os personagens retratados.
“A magia de Chambi pulsa em suas fotografias,”, escreveu
Mario Vargas Llosa. “Magia que o distingue de todos os fotógrafos com quem os
críticos o tentam comparar, desde August Sander a Nadar, passando por Edward
Weston, Ansel Adams, Irving Penn ou ainda Abraham Guillén”, completa. Chambi se
transformou no fotógrafo símbolo do povo de língua quéchua, dando voz à
estranha melancolia do homem andino. “Meu povo fala por meio das minhas
fotografias”, escreveu para uma exposição em Santiago e Viña del Mar, no Chile,
em 1936.
Muitas de suas fotografias permaneceram desconhecidas até
sua morte, em 1973. Algumas delas ainda esperam pesquisas mais aprofundadas
para virem à luz. Mas o material conhecido integra parte importante do
imaginário sul-americano, como documentos poéticos, misteriosos e incisivos de
um mundo desaparecido. Em 1977, quatro anos após sua morte, os filhos, Victor e
Julia Chambi e o fotógrafo e antropólogo americano Edward Ranney catalogaram as
14 mil placas de vidro do fotógrafo. A pesquisa resultou em uma grande
exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), em 1979. A forte repercussão
internacional levou a mostra a circular por museus e universidades americanas,
passando pelo Canadá e terminando na Photographer's Gallery, de Londres.
Na década de 1980, foram organizadas importantes mostras
sobre sua obra, como a de 1981, que passou por Zurique, Berlim, Madri e
Roterdã, e a de 1984, com curadoria de Juan Carlos Belón, apresentada em
Veneza. Desde então, várias exposições vêm sendo exibidas em diversos países,
inclusive no Brasil, como no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, em 2010.
Atualmente, os originais de fotógrafo encontram-se no
Archivo Fotográfico Martín Chambi, em Cusco, instituição fundada e dirigida por
seu neto Teo Allain Chambi, que prima pela preservação e pela difusão da obra
do avô. Como ressalta o neto, Martín Chambi é o primeiro fotógrafo de sangue
indígena a retratar seu próprio povo com altivez e dignidade somadas a um
altíssimo nível técnico, um olhar excepcional e um magistral domínio da luz.
As 88 imagens de
Chambi que integram o acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles e compõem esta
exposição, foram realizadas entre 1919 e 1948. Provenientes do
Archivo Fotográfico Martín Chambi, foram selecionadas e ampliadas a partir dos
negativos originais de vidro, nos anos 1980, por Teo Chambi. Outro conjunto de
obras também expostas nesta mostra, de 23 fotografias originais de época em
formato de cartão-postal, integram um conjunto maior de mais de mil imagens do
Peru reunidas no acervo do IMS que contextualizam e reafirmam a importância da
obra de Martín Chambi como representação fotográfica maior da face e da cultura
andinas no continente sul-americano.
Exposição Face andina – Fotografias de Martín Chambi no acervo do
Instituto Moreira Salles
Visitação: 2 de outubro de 2014 a 2 de fevereiro de
2015
De terça a sexta, das 13h às 19h
Sábado, domingo e feriado, das 13h às 18h
Entrada franca - Classificação livre
Instituto Moreira Salles – São Paulo
Rua Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis
Tel.: (11) 3825-2560
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