José Roberto Goldim, autor da Editora Unisinos, fala sobre Bioética e os dilemas morais do ser humano com relação ao ambiente onde vive

Devemos utilizar células-tronco embrionárias para curar doenças? Até que ponto o ser humano pode usar recursos naturais para sua sobrevivência como espécie? Toda pessoa tem o dever moral de doar seus órgãos? Todos esses questionamentos podem ser melhor analisados sob a ótica da Bioética, que busca a tomada de decisões éticas diante de problemas que envolvem os seres vivos. Talvez esta simplificação do que é esta disciplina não dê conta da variedade do seu escopo de atuação, portanto buscamos esclarecer mais sobre o tema com o entrevistado desta semana na coluna “A Voz do Autor”. José Roberto Goldim, autor de “10 ensaios sobre Bioética”, publicado pela Editora Unisinos, é licenciado em Ciências Biológicas pela UFRGS, mestre em Educação pela mesma instituição e doutor em Medicina (Bioética) também pela UFRGS. É ainda membro-fundador do Programa de Atenção aos Problemas de Bioética do HCPA, membro do Kennedy Institute of Ethics da Georgetown University. Na entrevista, Goldim busca esclarecer com mais profundidade os objetos de estudo da Bioética e como a disciplina pode ajudar o ser humano a se relacionar com outros seres vivos e com o próprio ambiente em que vive.
O seu mais recente livro, "10 ensaios sobre bioética", busca tazer uma linguagem mais acessível, para que possa ser apreciado por um público mais amplo. Qual a importância de envolver a sociedade nos debates sobre temas da bioética? 
Não existe uma reflexão consequente sem o envolvimento da sociedade. A Bioética surgiu como uma resposta a questões com as quais a sociedade está sendo confrontada. Tanto na década de 1920, com o surgimento da Bioética europeia, quanto na década de 1970, com o início da Bioética norte-americana, foi a sociedade quem demandou esta reflexão sobre a adequação das ações humanas em relação a natureza, ao início e ao final da vida, à alocação de recursos, entre outros.

Ainda sobre sua obra, cada ensaio foca em um determinado assunto que envolve a bioética, como doação de órgãos, congelamento de óvulos, espetacularização da ciência, entre outros. Como foi feita a escolha dos temas dos debates? Buscou-se assuntos particularmente polêmicos ou aqueles que estão mais em voga?
A seleção surgiu da prática diária de conviver com temas de Bioética. São temas que têm a ver com questões que às vezes não são tão simples quanto parecem, nem tão complicadas como alguns podem as tornar. O importante foi abordar uma ampla gama de assuntos, que permitam verificar a amplidão da reflexão bioética. Poderiam ter sido incluídos muitos outros temas. Quem sabe em próximos livros.

A bioética, como um todo, trata das escolhas morais da nossa relação com a natureza. Você acredita que as preocupações ambientais recentes, como o risco do aquecimento global, têm ajudado a repensarmos nossa ética com o meio ambiente? E o que é possível fazer para que a população reflita mais "bioeticamente"?

Sem dúvida alguma. Muitos setores da sociedade já se preocupam com as questões ambientais desde o ponto de vista bioético. Alguns temas, como questões alimentares, produção de resíduos, geração de energia de diferentes fontes e redução do deflorestamento são alguns dos temas que têm sido discutidos. A questão ambiental tem sido objeto de reflexão também por outros autores, como José Roque Junges, que publicou um livro especificamente sobre Bioética e Ambiente.

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