OAB Nacional se manifesta no Estadão contra nova PEC dos Precatórios
Brasília – A edição desta sexta-feira
(26) do jornal O Estado de S. Paulo traz, na coluna Opinião, um artigo
do presidente da Comissão Nacional de Precatórios da OAB, Marco Antonio
Innocenti. No texto, ele critica projeto que, se aprovado, ensejará
substancial redução no pagamento mensal dos precatórios. Confira:
O conto do vigário dos precatórios
MARCO ANTONIO INNOCENTI - O ESTADO DE S.PAULO*
O governador e o prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin e Fernando
Haddad, lançaram um engodo no Congresso Nacional travestido de carta de
boas intenções. Para anular decisão do Supremo Tribunal Federal (STF),
que manda Estados e municípios pagarem seus precatórios até 2020,
redigiram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que, ao contrário
do discurso, inviabiliza a ordem judicial, jogando mais uma vez para as
calendas gregas os pagamentos.
É
fácil de entender. O STF determinou o pagamento da dívida em 5 anos, a
partir de janeiro de 2016, em parcelas mensais que correspondam a 1/60
do valor total, de forma a quitá-la totalmente até o fim de 2020.
Para isso, o desembolso mensal deve ser elevado. Mas, em vez de
aumentar, o projeto reduz o montante. Possibilita o pagamento pela média
dos valores pagos entre 2010 a 2014, período em que os desembolsos
foram bem menores. Na prática, o fluxo de recursos cairá entre 30% e 40%
em relação ao que é destinado atualmente.
Se os valores pagos hoje são insuficientes para cumprir a decisão, como
seria possível diminuí-los e, ainda assim, quitar a dívida até 2020?
Tome-se como exemplo o caso do Município e do Estado de São Paulo.
Juntos, devem 40% do estoque nacional, estimado em R$ 97 bilhões pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A
Prefeitura paga cerca de R$ 110 milhões ao mês. Para obedecer ao STF,
deveria triplicar essa quantia. Mas a PEC sugerida permite que se pague
ainda menos do que é pago hoje.
O
projeto incorpora algumas medidas que podem até auxiliar no
financiamento da diferença dos recursos necessários para cumprir o prazo
fixado pelo STF, entre elas a autorização para realização de operações
de crédito. Mas não há na proposta enviada à Câmara nenhuma garantia de
que tais operações serão de fato levadas a efeito na amortização dos
pagamentos. Pelo projeto, a única obrigação que Estados e municípios
teriam, a partir do ano que vem, seria desembolsar, mensalmente até o
fim de 2020, a média do que pagaram nos últimos 5 anos. Nenhum centavo a
mais. Não se prevê nenhuma sanção se a diferença não for paga. E, se
não prevê, é porque não se pretende pagar.
A única razão que tem levado as entidades públicas a pagar precatórios é
o conjunto de sanções previsto no § 10 do art. 97-ADCT, especialmente o
sequestro de rendas, o que levou o STF a mantê-lo como garantia de que
os débitos vencidos serão, de fato, liquidados até 2020 mediante
amortizações mensais correspondentes ao valor total da dívida. Ao
retirar as sanções fixadas, deixando ao critério das próprias entidades
devedoras a utilização dos mecanismos de financiamento previstos, é
bastante óbvio que o projeto pretende apenas reeditar um novo calote
contra os credores, aplicando um bypass na decisão proferida pelo
Supremo.
As condições impostas pelo
STF para a liquidação dos débitos, resultantes do julgamento da
modulação da decisão proferida na ADI 4357, são perfeitamente factíveis,
ainda mais considerando a implementação de medidas que não só reduzirão
a dívida, como propiciarão condições de financiamento. Contudo, é
essencial que a referida proposta legislativa mantenha as sanções que,
tal como fixadas, garantam, já a partir de janeiro de 2016, a satisfação
integral do pagamento, sob pena de sequestro da diferença mensal
correspondente ao valor necessário à liquidação dos precatórios vencidos
até o final do exercício de 2020.
Da forma como foi apresentado, apenas para fugir dos critérios
estabelecidos pelo STF, sem nenhuma obrigatoriedade na satisfação dos
pagamentos integrais, o projeto do governador e do prefeito é um engodo.
Merece o mais veemente repúdio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
pois propiciará, na prática, a partir de 2016 (ano eleitoral), uma
substancial redução dos pagamentos mensais de precatórios, resultando,
em pouco tempo, no aumento da dívida, criando uma situação ainda mais
grave que a atual, em total desarmonia com o julgamento do STF.
* É presidente da Comissão de Precatórios da OAB Nacional
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