Queda nos preços põe à prova aposta da GE no setor de petróleo

As operações de petróleo e gás têm sido um ponto forte para a General Electric Co., que nos últimos anos construiu uma divisão de US$ 17 bilhões para aproveitar a demanda global por novas fontes de energia.

Mas hoje, essas operações estão se transformando em tema de preocupação para o conglomerado.

No encontro anual da GE com analistas e investidores, ontem, em Nova York, o diretor-presidente do gigante industrial americano, Jeff Immelt, admitiu que o colapso global nos preços do petróleo está afetando o desempenho da unidade de petróleo e gás. Tanto que a previsão da própria GE agora é que seu lucro no próximo ano fique abaixo das expectativas de Wall Street.

Immelt afirmou que a empresa já está avaliando oportunidades para cortar custos em sua divisão de gás e petróleo para navegar nesse novo cenário de preços baixos da commodity. Ele disse no encontro que a unidade deve se manter no ponto de equilíbrio ou gerar um prejuízo operacional no próximo ano, em meio a um “congelamento” dos gastos de capital na indústria petrolífera.

“Estamos realmente preparando a companhia para um 2015 de lentidão no setor de gás e petróleo”, disse o executivo. “O resto da empresa está bem”, acrescentou.

Esse panorama ressalta como uma empresa há muito conhecida por fabricar geradores, motores de avião e aparelhos médicos se encontra numa encruzilhada, depois de decidir dedicar uma parte substancial de seus negócios ao setor de energia num momento delicado.

A GE montou sua operação de petróleo e gás natural através de aquisições realizadas desde 2007 e avaliadas em mais de US$ 14 bilhões. A empresa colocou um de seus executivos jovens mais promissores, Lorenzo Simonelli, no comando da unidade. Mas a queda do preço do petróleo para cerca de US$ 60 por barril está pondo as premissas econômicas da empresa em cheque.

Há meros três meses, Simonelli disse aos investidores que entre os “supostos cenários” considerados pela GE estavam o petróleo a cerca de US$ 100 por barril nos próximos três anos.

Ontem, o preço do petróleo Brent, a referência internacional, recuou mais 2,1%, para US$ 59,80 o barril, seu menor nível desde maio de 2009. A cotação do petróleo nos Estados Unidos já despencou quase 50% desde junho. Ontem, ela fechou com ligeira alta, para US$ 55,93 o

barril, na Bolsa Mercantil de Nova York.

Petrolíferas de todo o mundo já estão sob pressão para reavaliar projetos. A americana Cono-coPhillips informou na semana passada que vai cortar seus investimentos em 20% em 2015.

“Considerando o que estamos vendo agora, se eles [a GE] conseguirem se manter no ponto de equilíbrio nos próximos 12 meses, já seria positivo”, diz David Nelson, estrategista-che-fe da gestora Belpointe Asset Management. “Não sei como vão conseguir crescimento” nesse cenário.

A mudança drástica do mercado de petróleo está criando um novo desafio para o plano da GE de retirar o foco de sua gigantesca unidade financeira e priorizar as operações industriais que os investidores valorizam mais.

Cerca de 21% do faturamento industrial da GE está exposto ao negócio de petróleo e gás, disseram analistas do J.P. Morgan Chase & Co. no início do mês. O maior impacto está nas unidades que fornecem equipamentos para perfuração, extração, medição e transporte de petróleo. Mas as unidades de equipamentos médicos e de geração de energia também podem ser afetadas se os preços do petróleo permanecerem baixos, reduzindo a receita de países produtores em que a GE vem tentando se expandir.

A cotação das ações da GE perdeu cerca de 7% nos últimos 12 meses. Ontem, ela recuou 0,4%, fechando em US$24,49.

Na teleconferência de resultados da GE no terceiro trimestre, realizada em outubro, o diretor financeiro, Jeffrey Bornstein, disse que a unidade de petróleo e gás tinha US$ 4,9 bilhões em encomendas, um aumento de 10% em relação ao trimestre anterior, mas estava reduzindo sua expectativa de crescimento futuro. A empresa cortou sua projeção de crescimento de pedidos de perto de 10% para em torno de 5%, disse Bornstein na época.

“Encomendas nessa área são muito voláteis e nós continuamos a ver alguns grandes projetos sendo adiados”, acrescentou.

Immelt disse na época que a GE estava monitorando o negócio com cautela. “A atividade principal ainda está razoavelmente sadia”, disse. “Existem partes que estão claramente mais fortes que outras.”

Algumas áreas da empresa podem sair ganhando com a queda nos preços do petróleo. A unidade de motores de avião, por exemplo, pode se beneficiar indiretamente se a economia com combustível incentivar as companhias aéreas a ampliar seus investimentos em serviços e troca de motores, dizem executivos da GE. E o combustível mais

barato pode ajudar outras unidades industriais da GE em regiões como Europa e EUA, compensando a queda na demanda em economias desenvolvidas ricas em recursos naturais, que são mais expostas aos preços do petróleo. Mesmo assim, os investidores estão preocupados.

“Receio que teremos más notícias daqui para a frente”, previu Jack De Gan, diretor de investimentos da firma americana Har-bor Advisory, que mantém ações da GE em nome de seus clientes. A GE pode manter sua projeção de vendas, considerando que a unidade já alinhou contratos com projetos de petróleo e gás existentes, diz ele, mas em relação a projetos futuros para 2015 e 2016, “creio que vamos ouvir certa moderação”.

A GE acredita que será em parte protegida porque uma grande parcela da receita da divisão de petróleo vem de serviços, e porque poços que já estão em produção permanecerão ativos, apesar da queda nos preços. Comparada com seus pares, a empresa tem relativamente menos exposição a operações não convencionais, como em formações de areia betuminosa e de xisto, onde a exploração deve diminuir.

A empresa também acredita que será capaz de ajudar os clientes a explorar petróleo e gás de forma mais eficiente, o que pode ser uma vantagem num cenário de preços em queda. A redução nos preços também dá à GE a oportunidade de comprar mais ativos a preços menores, caso ela queira expandir seu negócio.

Mas com as oscilações nos preços do petróleo ainda em seus estágios iniciais, não é fácil dizer onde as coisas podem chegar.

“É realmente muito difícil se posicionar porque você não sabe a duração do processo”, diz Scott Davis, analista que cobre a GE para a Barclays Capital. “Se o petróleo ficar em baixa durante seis meses, é uma coisa. Mas se a baixa durar três anos, é outra inteiramente diferente”.
Fonte: Valor Econômico / The Wall Street Journal

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