Sistema Mineiro de Qualidade do Leite começa a ser implantado na Zona da Mata
- Para proteger o consumidor de produtos lácteos, a legislação brasileira tem se tornado cada vez mais exigente quanto à qualidade do leite produzido no país. Em função disso, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) e do Polo de Excelência do Leite, está implantando o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL), visando adequar os fornecedores de 100 laticínios mineiros às novas normas de qualidade. É um projeto-piloto com potencial de ser replicado nas várias regiões do Estado.
A primeira fábrica que terá seus fornecedores atendidos pelo Sistema é o Laticínio Alzira, que fica no município de Argirita, Zona da Mata. Segundo o diretor do laticínio, Mário Cézar, para o negócio que gerencia, a qualidade da matéria prima é fundamental, visto que fabrica um produto diferenciado, com maior valor agregado, que só é possível produzir com matéria prima de alta qualidade. Além, é claro, de atender às exigências da Instrução Normativa 51 (IN51).
Através do SMQL o Governo de Minas vai subsidiar metade do custo da capacitação dos 15 fornecedores de cada uma das 100 indústrias, com o objetivo de provar que é possível melhorar a qualidade com baixo investimento. Os laticínios que aderirem ao sistema deverão praticar o pagamento aos fornecedores em função da qualidade da matéria prima produzida.
Para a realização do treinamento, está sendo contratada a empresa neozelandesa, Quality Consultants of New Zealand (Qconz), que trouxe a tecnologia do país de origem para implantação nas fazendas brasileiras. Essa tecnologia é extremamente simples, tanto para implantação, quanto para sua manutenção, o que resolve um problema percebido em outros sistemas de qualidade, aparentemente fáceis de serem implantados, mas difíceis de serem mantidos.
A Nova Zelândia, que já enfrentou problemas de baixa qualidade da matéria prima semelhantes aos percebidos no Brasil, é, hoje, referência internacional do setor lácteo, com produtos aceitos no mundo inteiro. Estas experiências foram trazidas pela empresa Qconz, que desenvolveu, em parceria com a DPA/Nestlé, um sistema de qualidade com sucesso já reconhecido.
Treinamento
O treinamento de Boas Práticas de Fazenda oferecido pela Qconz é simples e necessita de pouco investimento, sendo mais importante a gestão. Os focos são os registros, a identificação e a saúde dos animais, a organização e limpeza da fazenda e a higiene da ordenha, dos equipamentos e do tanque resfriador.
De acordo com Bernard Woodcock, diretor da Qconz na América Latina, o objetivo do trabalho é reduzir a contagem bacteriana total (CBT), contagem de células somáticas (CCS) e incidências de antibiótico no leite. Para isto, a Qconz realiza treinamentos baseados em métodos aprovados internacionalmente que melhoram a qualidade do leite em ambos os processos de ordenha, mecânica e manual. Para que os conhecimentos sejam multiplicados e repassados aos fornecedores de leite, os consultores da Qconz acompanham os técnicos no campo auxiliando-os na solução dos problemas, assegurando, desta forma, que estes técnicos estarão habilitados a dar continuidade no programa de boas práticas agropecuárias.
Projeto piloto realizado no Laticínios MB, em Lima Duarte, apresenta resultados
Este projeto de qualidade já foi testado, por meio de um projeto piloto realizado sob os auspícios do Polo de Excelência do Leite nos fornecedores do Laticínios MB, primeira indústria da região que recebeu apoio do governo para este treinamento. O projeto, desenvolvido em 2010, capacitou em Boas Práticas de Fazenda uma das suas linhas de leite. O resultado foi tão positivo para a indústria, que, por iniciativa própria, foi ampliado para 75% dos seus fornecedores e pretende atender a totalidade até o meio deste ano. Segundo Bernardo Bahia, diretor do MB, este é um modelo de sucesso, haja vista a queda imediata dos valores de CCS e CBT. O mais interessante é que os resultados bons se mantiveram, sinal de que a iniciativa foi realmente bem sucedida. O impacto financeiro da implantação desse sistema de qualidade foi brutal. Houve uma redução substancial no índice de devolução dos nossos produtos, tínhamos um número bem alto e hoje o índice é praticamente zero, afirma Bernardo.
Governo de Minas quer certificar indústrias e fornecedores
Esta iniciativa do Governo de Minas faz parte de um projeto de qualificação do setor para a certificação: Certileite. “A qualidade da matéria prima para indústria láctea é de fundamental importância, não só no rendimento para produção, principalmente de queijos, como também na segurança dos alimentos para o consumidor. O consumidor brasileiro já começa identificar na embalagem a composição do alimento e se no produto constar um certificado de qualidade, ele ficará ainda mais seguro para consumir o produto, é o que explica o gerente executivo do Polo do Leite, Geraldo Alvim Dusi.
Para o produtor rural, a certificação agrega valor ao produto. Ter como fornecedor uma fazenda certificada dá garantias ao empresário de que estará recebendo um produto de alta qualidade, isso terá, cada vez mais, valor no mercado. Para a indústria a certificação garante uma maior credibilidade, transmitindo ao consumidor uma imagem positiva de qualidade comprovada, diferenciando-o nas gôndolas do supermercado.
A partir de um acordo de cooperação técnica entre o Governo de Minas e a empresa certificadora alemã TÜV Rheinland, assinado em 2010, foram elaboradas normas para certificação de produtores e laticínios, projeto inédito no país. O objetivo do acordo é a conjugação de esforços para o fortalecimento e sustentabilidade do setor lácteo.
Para a certificação de fazendas foi criado o Programa de Boas Práticas de Fazenda que prevê procedimentos relacionados à qualidade, como: o controle de doenças; a higiene de ordenha; o resfriamento do leite; o controle de mastite e de antibióticos; à segurança do leite, como: o tratamento da água, o controle dos agrotóxicos e da ração e manutenção das distâncias mínimas previstas, e às boas práticas de produção de leite completas, incluindo tratamento de efluentes; atendimento das normas de preservação do meio ambiente; cumprimento das leis trabalhistas e das normas de bem-estar do animal.
No caso do laticínio, para ele se certificar com o selo bronze, é necessário que tenha Boas Práticas de Fabricação (BPF) e os Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO), além de possuir um programa de qualidade de leite para seus fornecedores. Para o selo prata é preciso também a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e já ter implantado o Programa de Boas Práticas de Fazenda em 50% dos fornecedores e para o selo ouro, a aplicação da norma ISO 22.000, e já ter o Programa de Boas Práticas de Fazenda implantado em 80% dos fornecedores.
Fortalecimento
Todas essas ações foram resultantes de um primeiro projeto de Fortalecimento das Instituições de C&T de Minas Gerais para implementação das boas práticas de produção de lácteos, que visa tornar a Zona da Mata e a região do Campo das Vertentes referências nacionais em qualidade, um dos principais focos de atuação do Polo de Excelência do Leite. Por intermédio do Polo, o Governo do Estado já aportou nas instituições da região aproximadamente R$ 3.500.000,00 em projetos estruturantes que visam capacitar os laticínios dentro dos padrões internacionais de qualidade. Todas essas informações estão disponibilizadas na plataforma do Polo do Leite