Ativistas negras destacam importância da campanha Vidas Negras contra o racismo e a violência letal

Militantes negras gravam depoimentos de apoio à campanha Vidas Negras, da ONU Brasil, e incentivam ações para a eliminação do racismo

Mulheres negras ativistas e parlamentares avaliam os oito meses da campanha Vidas Negras, da ONU Brasil, lançada em novembro de 2017. Para elas, a iniciativa acerta ao trazer o racismo e a defesa da vida de jovens homens e mulheres negras como tema central de uma das principais ações de comunicação das Nações Unidas no Brasil no âmbito da Década Internacional de Afrodescendentes.
Os depoimentos foram gravados durante a Semana das Mulheres Negras, atividade organizada pela ONU Mulheres, pelo Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e Embaixada do Reino dos Países Baixos. A ação proporcionou espaço de diálogo técnico qualificado entre integrantes do Comitê, agências da ONU, governo brasileiro e institutos de pesquisa. “São fundamentais as vozes de mulheres negras ativistas para Vidas Negras no sentido de qualificar a campanha e trazer outras agentes e elementos que colaborem para o enfrentamento do racismo. As campanhas são vivas e se tornam mais reais quando as pessoas participam e trazem a sua contribuição para que o debate público se torne mais intenso e alcance mais corações e mentes ”, afirma Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil e coordenadora do Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da ONU Brasil.
A força das campanhas para a eliminação do racismo e para a pluralidade de ideiais e opiniões é reforçada por Ieda Leal, coordenadora nacional do MNU (Movimento Negro Unificado). “Num país em que o racismo é muito forte, nós precisamos de várias campanhas. A mídia e a comunicação precisam nos ajudar. É importante quando alguém diz que vidas negras importam e coloca caras de homens e mulheres negras nessa perspectiva de dizer que essas vidas são importantes para a sociedade. Nós precisamos de campanhas como essa, que tenham coragem de colocar a cara do Brasil nos meios de comunicação”, diz.
A deputada federal Benedita da Silva, uma das titulares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência contra Jovens Negros e Pobres, salienta que a sociedade brasileira precisa reagir diante do crescente assassinato de jovens negros. “Nós queremos nossos filhos, nossos jovens negros vivos. Queremos vivos os filhos das mulheres e homens negros. Nós queremos que nesses 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nós possamos virar essa história. Que possamos formular outras políticas. Que possamos mudar a história da humanidade, não apenas a história do Brasil”, considera.
Para as integrantes do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, a campanha Vidas Negras qualifica o sentido da vida ao passo em que expõe a faceta fatal do racismo. “A vida humana é um bem precioso. Não pode ser o racismo que elimine essa vida. Não pode ser o sexismo que elimine essa vida. As vidas valem. E é, por isso, que vidas negras importam. As vidas importam”, pondera Regina Adami.
Givânia Silva, outra integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, conta que a campanha Vidas Negras tem colaborado para outras iniciativas. “A campanha Vidas Negras não só tem dado muito resultado, mas tem inspirado outras campanhas. A partir dela, outras campanhas têm sido feitas. A questão quilombola é um exemplo. É uma espécie de filha da campanha Vidas Negras só que tratando especificamente da questão dos quilombolas, que têm lideranças mortas”, completa.
De acordo com Clátia Vieira, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, a campanha Vidas Negras chama toda a sociedade brasileira a reagir ao racismo e à violência letal. “Uma campanha com essa chamada leva a sociedade brasileira à reflexão de que vidas negras importam. E não pode ser um problema só da comunidade negra. A mensagem que essa campanha traz é que você olhe para um jovem ou uma jovem preta e veja naquele ser uma pessoa, cidadã de direitos”, adiciona.
Segundo Thânisia Cruz, componente do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, “O assassinato da população negra, em especial da juventude negra tem se tornado quase um fator histórico. E a campanha, nesse sentido é importante, porque na trajetória brasileira a gente teve um boom midiático, em que a gente dá muita importância para o contexto que está na mídia. Então, a campanha é muito importante nesse contexto porque ela chega às pessoas. As pessoas estão o tempo todo conectadas. A campanha chega às pessoas de uma forma aproximada, elucidativa, prática e objetiva”.
Além da sensibilização pública contra o racismo, Vidas Negras também pode desencadear ações do poder público, especialmente em relação aos altos índices de assassinatos de jovens negros. “Numa campanha como essa, é preciso também trazer elementos, estratégias para virar o jogo. Porque quando se faz um histórico de movimento negro, uma das pedras angulares, quando surge o MNU (Movimento Negro Unificado), foi justamente numa questão de morte. A questão é como se estabelece agora, século 21, estratégias para dentro das Nações Unidas, dos Estados para reverter isso. A campanha tem de estar vinculada a proposições”, avalia Maria Inês Barbosa, ativista do movimento negro.
Fortalecimento do ativismo das mulheres negras – Em parceria com organizações do movimento de mulheres negras, a ONU Mulheres Brasil está desenvolvendo a estratégia de comunicação e advocacy político Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, articulando a interface da plataforma da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver com três agendas de trabalho das Nações Unidas: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, adotada pelos Estados-membros da ONU para a qual foram elaborados 17 objetivos globais (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS); iniciativa global “Por um Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, da ONU Mulheres, estabelecida com a finalidade de incidir sobre governos, empresas e sociedade na adoção de medidas concretas para o empoderamento das mulheres e meninas; e Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), proclamada pela Assembleia Geral da ONU, para a promoção dos direitos humanos da população negra mundial a partir dos pilares reconhecimento, justiça e desenvolvimento.
Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 ancora-se, ainda, na Plataforma de Ação de Pequim (1995), adotada na 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, no Plano de Ação de Durban, adotado na 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas e no Marco de Parceria das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2017-2021, firmado entre a ONU e o Governo Brasileiro, que coloca como central a promoção da igualdade de gênero e raça e o enfrentamento do racismo para o cumprimento da Agenda 2030 no país.

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