Os animais possuem interesses como os homens: de não sofrer, de não sentir dor e de viver suas vidas da melhor maneira possível, diz Peter Singer


O plenarinho da Assembleia Legislativa ficou completamente lotado, nesta terça-feira (27), para ouvir o filósofo australiano Peter Singer, autor do livro Libertação Animal, considerado a bíblia do movimento pelos Direitos Animais. O evento, uma promoção da Secretaria da Especial dos Direitos Animais (SEDA), Braskem e Fronteiras do Pensamento, teve como tema “Ética e Animais”.
Para Regina Becker, a SEDA está cumprindo um dos seus objetivos: a conscientização. “As pessoas têm sua parcela de responsabilidade frente à questão do abandono e dos maus tratos, que tornaram-se um problema social. O Brasil está no ranking dos países com maior número de animais domésticos do mundo: seis cães e quatro gatos por habitante. Em Porto Alegre, a proporção é maior: 2,3 habitantes para cada animal domiciliado", destacou.

Portanto, é nosso dever mudar esta cultura de abandono e maus tratos, fazendo as pessoas pensarem junto com uma sumidade no assunto, que é Peter Singer. Muito me orgulha a SEDA ter proporcionado este evento, ao lado da Braskem e Fronteiras do Pensamento, àquelas pessoas que aqui estiveram e que, com certeza, levarão a mensagem adiante”, destacou.

Brasil no ranking mundial do consumo de carne
Peter Singer apresentou um histórico da causa animal, desde Aristóteles, período em que a igualdade entre os seres humanos e não-humanos era vista com preconceito, uma filosofia que vai de encontro ao seu pensamento. E foi baseado neste estudo que o filósofo escreveu Libertação Animal, onde ele explica que “especismo é um viés contrário a outros seres, simplesmente, por não serem membros de nossa espécie. Os animais possuem interesses como os homens:  de não sofrer, de não sentir dor e de viver suas vidas da melhor maneira possível”.
De acordo com Singer, a cada ano, aproximadamente 100 milhões de animais vertebrados são mortos para uso em pesquisas. Para a produção de alimentos, este número sobe para 60 bilhões. Ou seja, a produção de alimentos usa cerca de 600 vezes mais animais, sem incluir os peixes.
O filósofo destacou que, ao longo da vida, o consumo de alimentos pelos animais é seis vezes superior ao consumo humano, em todo o mundo. “Os animais não podem ser vistos como fonte de alimento e, sim, como fonte de consumo”, enfatizou.

"Com mais conhecimento de causa e educação, as pessoas mudarão de ideia aos poucos. Sem contar que opções estão surgindo. Um cientista holandês apresentou um hambúrguer feito em laboratório. Eu, definitivamente, comeria. Salvaria o planeta comendo algo saboroso".


Singer disse mais: que é muito difícil mudar uma sociedade, com seus princípios e ideias cristalizados. Para avançar em questões pertinentes, como os Direitos Animais, é preciso haver o meio termo e a ponderação, sem radicalismo. Se não tivermos condições de atingir o "ideal", é preciso buscar o equilíbrio. "Se tornar vegetariano seria uma boa alternativa, mas sei que não é uma solução prática no momento, porque muitos não têm acesso à comida suficiente ou a uma dieta balanceada sem comer carne. Mas pessoas capazes de encontrar ou comprar muitas frutas e vegetais podiam se tornar vegetarianas. Seria melhor para a saúde, para os animais e para o planeta", disse.
Ele disse que o Brasil, a Argentina, o Uruguai, os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália são os maiores consumidores de carne do mundo. Destacou ainda que não são os automóveis que geram mais emissões de gases de efeito estufa, mas o setor da pecuária.

"Não devemos preservar uma vida simplesmente porque ela é humana".
 


Eleito o Humanista do Ano pelo Conselho de Sociedades Humanistas Australiano em 2004, das suas mais de 30 obras, Libertação Animal é a preferida de Peter Singer, pois foi escrita em um impulso de entusiasmo ao perceber que havia algo terrivelmente errado no que se fazia com os animais.
Para o prefeito José Fortunati, “a palestra foi um momento extremamente importante para refletir sobre a sociedade que queremos, uma sociedade inclusiva que respeite os seres humanos e não-humanos. Penso impossível pensar numa sociedade harmônica sem que os Direitos Animais estejam na pauta de discussão política”.

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