Biblioteca Epifânio Dória possui rico acervo em braile

Criado em 2007, o setor de braile da BPED promove inclusão social através do rico acervo e de cursos ofertados na unidade


Literatura infantil, infanto-juvenil, nacional, estrangeira, boletins, revistas, periódicos, livros jurídicos, livros didáticos – história, matemática, biologia, língua portuguesa. Essa é a composição do acervo de um setor específico da Biblioteca Pública Epifânio Dória (BPED0: o setor de braile. Criado em 2007, o setor possui cerca de 2000 livros, além de um material em áudio que fica localizado na Audioteca. São textos falados recitados pelos chamados ledores, que auxiliam aqueles que não aprenderam o sistema braile.
Para ter acesso a esses materiais, o procedimento é o mesmo dos outros setores. Basta o usuário ser cadastrado na BPED, e ter a carteirinha de empréstimo. A cada mês o acervo do setor é atualizado com os livros fornecidos pela Fundação Dorina Nowill para Cegos, que há mais de 60 anos vem se dedicando à inclusão social de pessoas com deficiência visual, distribuindo esses materiais para escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.
A secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, conta que acessibilidade às pessoas com deficiência é um dos principais objetivos da instituição. “Cada vez mais a cultura dialoga com o conceito de inclusão social, e o trabalho que desenvolvemos na Biblioteca Epifânio Dória é uma prova disso. É importante destacar que a unidade vai além do suporte para empréstimo de livros, disponibilizando também cursos básicos do sistema braile, oferecidos não só às pessoas com deficiência visual como a toda a população”, explica a secretária.
O curso, segundo a diretora da BPED, Sônia Carvalho, faz sucesso.“A procura pelo curso é grande, mas temos um número limitado de vagas, pois estas aulas exigem minúcia e atenção especial a todos”, explicou a diretora. Segundo ela, está prevista uma ampliação para essa seção. Após uma reforma na antiga sala do Conselho Estadual de Educação, o setor passará a ficar localizado nesta sala, tornando o local mais aconchegante, e o espaço onde está o acervo e o atendimento ao público também.

Exemplo de superação

O estagiário responsável por ministrar os cursos em braile, organizar o acervo do setor, dar atendimento às pessoas com deficiência visual é o estudante de matemática – Edvaldo dos Anjos. Deficiente visual, Edvaldo é exemplo de determinação. Aos 23 anos, após um acidente ele ficou cego. Hoje com 32, ele mostra superação, sabedoria e dá uma aula de lição de vida a todos que o conhecem.
Em 2008, ao ministrar um curso sobre o uso do soroban (instrumento japonês utilizado para cálculos matemáticos), Edvaldo conheceu Sônia Carvalho, que se encantou com seu trabalho e o convidou para estagiar na biblioteca. “No momento estou com duas alunas que se interessam pelo sistema braile. Elas não são deficientes visuais, mas têm muita vontade de aprender para ajudar os outros”, contou.
Estudante do quinto período do curso de Matemática, Edvaldo afirma que nem mesmo essa limitação o impediu de ampliar seu conhecimento e com isso realizar seu sonho de se tornar um matemático. “Carrego esta paixão desde criança, por isso escolhi me graduar em Matemática. Somos eternos aprendizes, nunca perderei a vontade de aprender!”, orgulha-se Edvaldo.
Sobre o acervo da biblioteca, mesmo optando pelos números, ele mantém o hábito da leitura, inclusive já leu os livros infantis do setor que trazem segundo ele: “boas lições de vida”. “Do nosso acervo já li ‘Ensaio sobre a Cegueira’ de José Saramago, ‘1808’ de Laurentino Gomes... Não leio mais por falta de tempo e por conta da faculdade. Por isso tento organizar meu tempo ao máximo”, frisou o estudante.

As aprendizes

Ajudar ao próximo através do ensinamento do sistema braile fez com que a pedagoga Maria da Conceição Boaventura e a matemática Bruna Moraes fossem até a BPED informar-se acerca das aulas oferecidas por Edvaldo dos Anjos. Ambas professoras, a dificuldade em relação a aprendizagem do sistema é algo que vem desde a faculdade, já que não havia disciplinas que ofereciam o braile.
“Quando me formei o braile não era matéria obrigatória na minha universidade, o que considero uma deficiência. Através de Sônia passei a conhecer Edvaldo, que está me ensinando pela primeira vez. Tenho uma tia que é deficiente visual e pretendo dar esse suporte a ela, já que a mesma mora no interior e por isso não pode vir para cá”, relatou Bruna. Segundo ela, esta aprendizagem auxiliará também na sua profissão ao lidar com alunos com deficiência visual. “Conviver com pessoas diferentes de mim me fortalece e me enriquece como ser humano. Recentemente fiz um cursinho preparatório para concursos e lá conheci uma pessoa com deficiência visual, queria ajudá-lo na aprendizagem, mas não sabia o braile”, lamentou.
Para Bruna, o pouco que viu em sua primeira aula a respeito do sistema, a fez perceber que é algo que exige esforço e memorização por parte do aluno. Além disso, a nova aluna de Edvaldo não poupou elogios ao professor. “A codificação do alfabeto para o braile é muito interessante e exige ao mesmo tempo uma boa memorização. Ele é um ótimo professor o que torna a aprendizagem mais fácil”, elogiou.
Contadora de histórias do Grupo Prosarte, a pedagoga Maria da Conceição Boaventura, além de aluna, utiliza o espaço oferecido pela biblioteca para contar histórias para crianças com deficiência visual. Aposentada, ela diz que ao longo de sua carreira trabalhou com educação especial. “Me emociono em saber que posso ajudar ao próximo com o que eu sei. Tive um irmão com deficiência e sei o quanto é importante políticas voltadas para essas pessoas”, afirmou Maria da Conceição. Para ela, quem sabe o braile carrega consigo uma forma de inteligência.
Sônia Carvalho finaliza afirmando que é uma satisfação trabalhar para este público e ver pessoas da comunidade se dedicando a ele. “Qualquer pessoa que quiser ser atendimento basta marcar um agendamento através do telefone 3179-1907. Estamos aqui prontos para servi-los e todo nosso acervo está disponível para empréstimo”, lembrou a diretora da instituição.

Sobre o sistema braile

Aos três anos Louis Braille perde a visão. Aos sete ele entra no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, com 18 anos, ele torna-se professor desse Instituto, onde cria o sistema de leitura para cegos – após ouvir falar de um sistema de mensagem com buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite.
Em 1829, ele publica o método já aperfeiçoado e adaptado. A partir dos pontos, o deficiente visual pode distinguir através do tato notas musicais, sinais, números, pontuações, letras e etc. Em 1852, morre o gênio, deixando o mais importante legado de aprendizagem para os cegos

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