Aumento de apagões leva a acúmulo de prejuízos no setor rural
Iara Guimarães Altafin
Para Ana Amélia, situação se agrava por falta de investimentos em linhas de transmissão
Com a interrupção de energia elétrica, o
agricultor não pode irrigar e a produtividade da lavoura cai; o
produtor de leite não pode fazer a ordenha mecânica e o produto já
estocado estraga por falta de refrigeração; o avicultor perde animais
pela falta de ventilação nos galpões; e o dono do armazém fica sem o
sistema de esteiras para movimentar os grãos. Esses são alguns dos
problemas causados pelos apagões, que provocam acúmulo de prejuízos ao
setor rural, relatados nesta quinta-feira (27) durante audiência pública
na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
– A situação está se agravando por
falta de investimentos nas linhas de transmissão, pois não basta
produzir energia, se não se leva essa energia ao consumidor. E por
problemas de manutenção das linhas existentes – frisou a senadora Ana
Amélia (PP-RS), que sugeriu a realização do debate.
Para o representante da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Cristiano Palavro, a expansão
de atividades, como irrigação e beneficiamento de produtos, já estaria
comprometida por falta de energia elétrica.
– Apesar de existir crédito do governo
federal para incentivo a pivôs centrais e armazéns, os projetos ficam
parados nas instituições financeiras, aguardando a liberação de carga
elétrica por parte das concessionárias, o que gera imensa estagnação
dessas atividades e prejuízos à economia do país como um todo – disse.
Além da perda de produção, os
agricultores enfrentam problemas pela queima dos equipamentos,
decorrente de oscilações na rede quando do retorno do fornecimento de
energia elétrica após os apagões.
– Quem é que indeniza? – questionou Ana
Amélia, ao observar que ao prejuízo com o equipamento danificado se
soma à perda de produção.
Cobranças
No debate, Marco Olívio de Oliveira, da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), reclamou da demora de
repasses de recursos do Fundo de Desenvolvimento Energético às
cooperativas de eletrificação rural, que atendem diversas propriedades
rurais, principalmente na Região Sul.
Conforme relatou, o governo estaria
pagando agora em fevereiro valores esperados desde novembro pelas
cooperativas. Após ouvir o relato, Ana Amélia observou que a situação
agrava os problemas de abastecimento de energia nas pequenas
localidades.
Ao destacar a importância do
agronegócio para a economia do país, Cyro Miranda (PSDB-GO) lembrou que
as frequentes interrupções de energia nas áreas mais produtivas do país
afetam não apenas a produção agropecuária, mas também a indústria a ela
associada.
Para buscar medidas que acelerem os
repasses às cooperativas e que permitam a reparação pelo dano causado
aos produtores rurais afetados pelos frequentes apagões no campo, Ana
Amélia informou que a comissão realizará audiência pública específica
com a Aneel. Representante da agência era esperado no debate desta
quinta-feira, mas não compareceu alegando problema de agenda.
Distribuição
Para Wady Charone, da Eletronorte, as
causas dos frequentes cortes de energia estão na distribuição, e não nos
sistemas de transmissão.
– Em Rondônia, em 2012, tivemos 1.019
desligamentos pelas distribuidoras de energia elétrica. Pela transmissão
da Eletronorte, foram 86 desligamentos no ano, com tempo médio de 45
minutos sem energia elétrica – exemplificou.
Apesar de não dispor de dados para todo
o país, ele acredita que a ênfase deveria recair na busca de soluções
para problemas de distribuição.
Para Ivo Cassol (PP-RO), a causa dos
problemas está na interrupção de obras públicas devido à burocracia e a
dificuldades na obtenção de licenciamentos. Ele defendeu ainda estímulos
a empreendimentos como as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Também José Guilherme Nascimento, da
Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, defendeu fontes de
energia com maior capilaridade local, que facilitem a distribuição e
sejam alternativas a grandes projetos, podendo ainda diminuir o peso
sobre as termelétricas.
Para ele, as PCHs deveriam ser mais
valorizadas, pois estão inseridas em contextos locais, produzem energia
renovável e usam tecnologia nacional. José Guilherme Nascimento cobrou
do governo a adoção de preços que estimulem a contratação das pequenas
centrais.
Agência Senado
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