Acre é o estado brasileiro que mais avançou na regularização fundiária
O Acre está em primeiro lugar no
desenvolvimento de políticas públicas para regularização fundiária no
Brasil. O destaque foi alcançado principalmente pela entrega dos títulos
de propriedade. A avaliação foi realizada pelo procurador do estado
Paulo Barreto, e os dados estão de acordo com a proporção populacional
de cada unidade da federação. Em segundo lugar está São Paulo e em
terceiro, outro estado nortista, o Pará.
No período de 2001 a 2010 foram
entregues dois mil títulos. Entretanto, entre 2011 e 2014 foram
entregues mais de 30 mil. O registro aponta então que as políticas
públicas avançaram 15 vezes mais em um terço do tempo, atendendo
famílias em todo o estado.
Segundo o diretor-presidente do
Instituto de Terras do Acre (Iteracre), Glenilson Figueiredo, isso foi
possível porque a gestão administrativa atual tem priorizado o programa
estadual de regularização fundiária urbana e rural no Acre. “Até o fim
do ano está prevista a entrega de mais quatro mil títulos, sendo mil
deles para a capital”, anuncia.
O resultado é fruto do esforço de
equipes em campo, do trabalho dos cinco escritórios do Iteracre no
estado e de um sólido apoio dos parceiros, que são secretarias da gestão
estadual, prefeituras, cartórios, Ministério Público Estadual,
sindicatos e associações de moradores.
Direito social
Uma das primeiras pessoas a receber o título no bairro Bahia Nova foi Lecy Costa. Ela reside há 40 anos na Rua Mem de Sá. “Não penso em vender minha casa, agora ficou registrada a herança dos meus três filhos”, diz.
A moradia é um dos direitos fundamentais
que está na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse direito
social é pressuposto para a dignidade humana e também está na
Constituição Brasileira, no artigo 6º, no qual a moradia é condição para
a realização integral de outros direitos constitucionais.
“Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação (…).“
Artigo 25 da Declaração dos Direitos Humanos
A moradora Maria José Araújo, do bairro
José Moreira, iniciou as obras em sua casa: “Estou construindo porque
tenho a certeza de que o local é meu”, declarou. A regularização foi
resultado do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) entre a prefeitura de
Brasileia e o Iteracre, no qual se efetivaram a construção do plano
urbanístico e aprovação por decreto municipal.
Morar irregularmente significa estar em
permanente condição de insegurança, situação que era visível pelo
desornamento e criminalidade no loteamento Novo Cruzeiro, localizado na
rodovia AC-10. O presidente da associação do bairro, Airio Nogueira,
conta: “Estamos felizes, porque o poder público está nos ajudando. Vemos
as coisas se encaminhando”. Os documentos foram entregues de forma
gratuita e está em andamento a infraestrutura urbanística no bairro.
Trabalho técnico
A regularização fundiária consiste em
regularizar a posse dos habitantes e promover a urbanização do local sem
recorrer à remoção da população para outras localidades.
As etapas do trabalho se iniciam com a
identificação das áreas por meio de levantamento topográfico. O Iteracre
já georreferenciou mais de sete mil quilômetros no Acre.
O professor da Unicamp Bastiaan Reydon
esteve no Acre na última semana para um estudo sobre a avaliação de
governança fundiária, e afirma: “O trabalho realizado de regularização é
muito importante. Já estive aplicando essa metodologia em estados e não
vi em outros locais ações proativas como aqui. Elas acrescentam muito à
vida da população”.
Audiências públicas
A mobilização para audiências públicas é
etapa fundamental para esclarecimento de dúvidas dos cidadãos e
resolução de conflitos. Os representantes do Ministério Público sempre
estão presentes zelando e levando cidadania aos encontros. O diálogo com
a comunidade proporciona o sucesso de outras etapas, que são o
cadastramento e a entrega de documentos.
O promotor de justiça Felisberto
Fernandes, da 6ª Vara de Registros Públicos, ressalta: “Nossa presença é
principalmente para verificar as questões de legalidade e orientar
todos os que receberem o título a fazerem o registro no cartório, para
que o processo se efetive. Só é dono quem registra”.
Uma das audiências públicas foi na
Colônia Cinco Mil, em que a preocupação compartilhada por membros da
igreja era sobre a venda para terceiros e a entrada de fazendeiros na
área da comunidade ayahuasqueira. O consenso alcançado na audiência é um
procedimento que se repetiu em mais de 400 templos de diferentes
denominações religiosas que foram regularizados neste ano.
Formalizando o progresso
A regularização fundiária implica um
conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que
têm o objetivo de adequação para o desenvolvimento urbano. Além disso, a
formalização é um meio de garantir o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
A situação de informalidade fundiária
está associada ao desordenamento urbano, como ocorreu em Jordão, que
nasceu do progresso do Seringal São João para vila até se transformar na
cidade com nome homônimo à foz do rio que corre no local.
“Há muito tempo eu tinha vontade de ter o
título da minha propriedade, porque não podia financiar para ter uma
casa boa. Agora posso”, conta Aldo Ribeiro, morador da cidade.
A regularização faz parte da história do
município, como afirma o primeiro prefeito, Hilário Melo: “Quando os
projetos chegavam aos ministérios, eram barrados, porque não tinham
título da terra. Nós perdemos várias oportunidades e convênios, aí
entendemos a necessidade”.
Jordão é um dos quatro municípios que já
possuem 100% da área urbana regularizada, assim como Rodrigues Alves,
Marechal Thaumaturgo e Assis Brasil.
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