Compra coletiva Novo!
“Quem não tem colírio usa óculos escuros com 81% de desconto (crédito de R$ 100 que você paga R$19) era o que prometia a Ótica Diniz no site de compras coletiva Peixe Urbano. Eles já começaram a bancar os engraçadinho aí. Só que eu não sabia e cai, ou melhor, comprei. Paguei 19 reais para ter uns óculos de sol que custam 100 reais. Se eu escolhesse um modelo que custasse 200 reais, teria que completar com... 100 reais, não é mesmo?
Foi esse o meu raciocínio. Eu sabia que jamais encontraria na loja óculos de 100 reais, que eles não eram loucos de fazer isso. Seria de 150 reais para cima, imaginei. Ainda assim, um bom negócio tanto para o consumidor quanto para o vendedor que ganharia em quantidade, supus. Até o momento da minha compra, mais de 800 unidades haviam sido vendidas. Unidades de cupons, diga-se. Não estou certa de que todos os que adquiriram os tais cupons efetivamente compraram os óculos. Vou contar o porquê.
Como uma consumidora que suspeita de tudo e de todos até prova ao contrário que sou, entrei na ótica com o cupom muito bem guardado no bolso direito da calça. O bolso tinha profundidade suficiente para me garantir que não o perderia no meio do caminho. A calça era larga o suficiente para que eu pudesse sacar o cupom rapidamente, como quem saca uma arma engatilhada. Treinei o gesto algumas vezes e vi que seria assim: rápido e certeiro.
Entrei na tal loja, na rua do Príncipe, em Joinville. Olhei à volta o mundaréu de óculos e comecei a pesquisa de preços. Provei alguns, pedi opiniões aos desocupados vendedores já que eu era a única cliente naquele momento. Estranho isso, né? Eu havia imaginado filas de gente para trocar seus cupons mágicos e mais um tantinho de dinheiro por seus óculos escuros maravilhosos. Isso durou cerca de quinze minutos. O trecho mais longo vem agora.
“Gostei destes. Quanto custam?”
“Com o desconto, sai por 150 reais”.
“Muito bem. Pode embrulhar que vou levar. Acerto no caixa?”
“Sim, por favor. Muito obrigada”.
No caixa:
“São 150 reais. Dinheiro ou cartão?”.
Tirei da carteira uma nota de 50 reais e saquei o cupom com crédito de 100 reais e os coloquei bem ali, em frente à moça do caixa, embaixo do seu lindo narizinho. E esperei. A vendedora, uma mocinha, que esteve ao meu lado feito um poste o tempo todo, quase pulou de susto.
“Isso não pode. Com o cupom, o preço dos óculos não tem desconto. São 200 reais”.
“Isso é que não pode. Ter um preço para o cliente sem cupom e outro preço para o cliente que ingenuamente, credulamente comprou o cupom”.
Sabendo que a mocinha não daria conta desse recado, um vendedor homem, mais velho e bem encorpado, interveio, tentando explicar-me a transação:
“É assim, nós não podemos fazer duas promoções ao mesmo tempo, entende? Ou a senhora tem o desconto que a loja dá ou tem o desconto do cupom”.
“A promoção divulgada é bem clara, meu senhor. ‘Quem não tem colírio usa óculos escuros com 81% de desconto. Crédito de R$100 por R$19’. Eu tenho um crédito de 100 reais e estou tentando usá-los devidamente. Quero comprar uns óculos que a loja vende por 150 reais com 50 reais em dinheiro e mais meu cupom de 100 reais.
Isso rendeu... Precisei desenhar o cálculo diversas vezes. Quando dei por mim, estava sentada em uma cadeira cercada de vendedores por todos os lados, cada um utilizando-se de um argumento diferente para convencer-me a aceitar o embuste como algo perfeitamente normal, legal e ético. Em vão, claro!
O truque é simples: A loja dá um desconto de 25% (na verdade ela sobe o preço antes) em todos os produtos e para quem tem o cupom, dá um desconto de 81%. Mas a pessoa comprou o tal cupom por 19 reais. Portanto o desconto real do comprador coletivo num produto de 150 reais como no meu caso seria de somente 33%. Uma manobra simplista e aviltante até mesmo para um inteligência mediana.
Entediada com aquilo, pus-me em pé novamente e com um tom de voz alto o suficiente para me fazer ouvir por aquele bando de loucos, determinei com a mão para o alto:
“Ok. Vocês venceram. Não quero mais os óculos.”
Silêncio total. Voltava cada um ao seu posto, quando pedi à mocinha que me atendera:
“Por favor, você pode me dar o orçamento escrito dos óculos?”.
Não sei se foi a frase, o tom de voz, o sorriso suave desenhado cuidadosamente no meu rosto, ou quem sabe o meu olhar tranquilo e distante... sei que o gerente saiu do fundo da loja e em segundos estava na minha frente mudando o curso da história. Ou tentando.
“A senhora pode levar seus óculos por 50 reais mais o cupom. Está no seu direito”.
“Eu sei disso. Aliás, era o que eu faria: procurar por ele, assim que saísse daqui”.
O sol brilhava lá fora. E eu, que não tenho colírio, saí com meus óculos escuros e com uma boa estória no bolso.
Foi esse o meu raciocínio. Eu sabia que jamais encontraria na loja óculos de 100 reais, que eles não eram loucos de fazer isso. Seria de 150 reais para cima, imaginei. Ainda assim, um bom negócio tanto para o consumidor quanto para o vendedor que ganharia em quantidade, supus. Até o momento da minha compra, mais de 800 unidades haviam sido vendidas. Unidades de cupons, diga-se. Não estou certa de que todos os que adquiriram os tais cupons efetivamente compraram os óculos. Vou contar o porquê.
Como uma consumidora que suspeita de tudo e de todos até prova ao contrário que sou, entrei na ótica com o cupom muito bem guardado no bolso direito da calça. O bolso tinha profundidade suficiente para me garantir que não o perderia no meio do caminho. A calça era larga o suficiente para que eu pudesse sacar o cupom rapidamente, como quem saca uma arma engatilhada. Treinei o gesto algumas vezes e vi que seria assim: rápido e certeiro.
Entrei na tal loja, na rua do Príncipe, em Joinville. Olhei à volta o mundaréu de óculos e comecei a pesquisa de preços. Provei alguns, pedi opiniões aos desocupados vendedores já que eu era a única cliente naquele momento. Estranho isso, né? Eu havia imaginado filas de gente para trocar seus cupons mágicos e mais um tantinho de dinheiro por seus óculos escuros maravilhosos. Isso durou cerca de quinze minutos. O trecho mais longo vem agora.
“Gostei destes. Quanto custam?”
“Com o desconto, sai por 150 reais”.
“Muito bem. Pode embrulhar que vou levar. Acerto no caixa?”
“Sim, por favor. Muito obrigada”.
No caixa:
“São 150 reais. Dinheiro ou cartão?”.
Tirei da carteira uma nota de 50 reais e saquei o cupom com crédito de 100 reais e os coloquei bem ali, em frente à moça do caixa, embaixo do seu lindo narizinho. E esperei. A vendedora, uma mocinha, que esteve ao meu lado feito um poste o tempo todo, quase pulou de susto.
“Isso não pode. Com o cupom, o preço dos óculos não tem desconto. São 200 reais”.
“Isso é que não pode. Ter um preço para o cliente sem cupom e outro preço para o cliente que ingenuamente, credulamente comprou o cupom”.
Sabendo que a mocinha não daria conta desse recado, um vendedor homem, mais velho e bem encorpado, interveio, tentando explicar-me a transação:
“É assim, nós não podemos fazer duas promoções ao mesmo tempo, entende? Ou a senhora tem o desconto que a loja dá ou tem o desconto do cupom”.
“A promoção divulgada é bem clara, meu senhor. ‘Quem não tem colírio usa óculos escuros com 81% de desconto. Crédito de R$100 por R$19’. Eu tenho um crédito de 100 reais e estou tentando usá-los devidamente. Quero comprar uns óculos que a loja vende por 150 reais com 50 reais em dinheiro e mais meu cupom de 100 reais.
Isso rendeu... Precisei desenhar o cálculo diversas vezes. Quando dei por mim, estava sentada em uma cadeira cercada de vendedores por todos os lados, cada um utilizando-se de um argumento diferente para convencer-me a aceitar o embuste como algo perfeitamente normal, legal e ético. Em vão, claro!
O truque é simples: A loja dá um desconto de 25% (na verdade ela sobe o preço antes) em todos os produtos e para quem tem o cupom, dá um desconto de 81%. Mas a pessoa comprou o tal cupom por 19 reais. Portanto o desconto real do comprador coletivo num produto de 150 reais como no meu caso seria de somente 33%. Uma manobra simplista e aviltante até mesmo para um inteligência mediana.
Entediada com aquilo, pus-me em pé novamente e com um tom de voz alto o suficiente para me fazer ouvir por aquele bando de loucos, determinei com a mão para o alto:
“Ok. Vocês venceram. Não quero mais os óculos.”
Silêncio total. Voltava cada um ao seu posto, quando pedi à mocinha que me atendera:
“Por favor, você pode me dar o orçamento escrito dos óculos?”.
Não sei se foi a frase, o tom de voz, o sorriso suave desenhado cuidadosamente no meu rosto, ou quem sabe o meu olhar tranquilo e distante... sei que o gerente saiu do fundo da loja e em segundos estava na minha frente mudando o curso da história. Ou tentando.
“A senhora pode levar seus óculos por 50 reais mais o cupom. Está no seu direito”.
“Eu sei disso. Aliás, era o que eu faria: procurar por ele, assim que saísse daqui”.
O sol brilhava lá fora. E eu, que não tenho colírio, saí com meus óculos escuros e com uma boa estória no bolso.