Pesquisador defende manejo adequado contra enfezamentos e cigarrinha do milho
Tendo em vista a ocorrência de Dalbulus maidis, mais conhecida como cigarrinha do milho, nas lavouras milho do Rio Grande do Sul, com impactos sobre a cultura do milho, estratégica para o Estado, a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), em conjunto com a Emater/RS-Ascar e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), emitiu um alerta fitossanitário no último dia 30 de agosto (veja aqui), a partir de relatos de ocorrência recente dessa praga nas lavouras já nos estágios iniciais desta safra.
Para reforçar o alerta e indicar recomendações, as instituições promoveram o painel virtual sobre Manejo dos enfezamentos e da cigarrinha-do-milho durante a 44ª Expointer, na manhã desta quinta-feira (09/09), que pode ser conferido em https://www.youtube.com/watch?v=bYGP1RFZ0_o.
Participaram da abertura da atividade Jairo João Carbonari, auditor fiscal do Mapa, Ricardo Augusto Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal (DDA) da SEAPDR, e o diretor técnico da Enmater/RS, Alencar Rugeri, que destacou as mais de 6 milhões de toneladas de milho previstas para a safra 2021/2022. “Para isso precisa ter manejo adequado de todas as pragas, doenças e insetos. Com a emissão do alerta oportunizamos avançar na construção e repasse de informações mais qualificadas de combate a essa praga aos técnicos, produtores, cerealistas e cooperativas”, ressaltou Rugeri.
Carbonari lembrou que no ano passado coordenou várias ações e no site do Mapa há várias informações relativas à cigarrinha do milho, e avaliou que “a produção de milho é um gargalo importante no Estado, pois produzimos metade do milho que necessitamos e agora com a cigarrinha poderá haver sérias consequências na quantidade e na qualidade da produção”.
Já Felicetti falou sobre a ocorrência do patógeno em 44% das amostragens realizadas em 153 municípios produtores de milho, “o que motivou a atenção, o alerta e a realização desse trabalho de esclarecimento aos produtores com a palestra do entomologista da Embrapa Cerrado, Charles Martins de Oliveira”. Ele também destacou a busca conjunta, do Mapa e de vários estados produtores, em especial do Sul do país, de soluções e garantias de uma boa produção de milho.
Importância do manejo
Charles Martins de Oliveira é engenheiro agrônomo e entomologista, mestre e doutor em Entomologia e pesquisador da Embraoa Cerrados, em Planaltina (DF), e atua com Manejo Integrado de Pragas. “Os enfezamentos e a cigarrinha têm tirado o sono de muitos produtores”, disse, ao explicar que os enfezamentos são conhecidos desde 1970, com registros, de lá para cá, de vários surtos epidêmicos pelo país, sendo que no RS e em SC ocorreu na safra 2005/2006. “Esse problema se tornou maior e mais recorrente a partir de 2015, quando foi registrada ocorrência da cigarrinha na Bahia, em Goiás, no Triângulo Mineiro e em São Paulo”, citou.
Assim como a cultura do milho, a cigarrinha do milho se originou no México, e o primeiro relato de ocorrência da praga no Brasil é de 1938. Hoje o Brasil tem 44 espécies das cigarrinhas, mas apenas a do milho é capaz de transmitir os patógenos do enfezamento.
Entre os sintomas da presença da cigarrinha no milho estão a redução da altura das plantas, o avermelhamento da margem e das pontas para dentro, brotos axilares, perfilhamento na base da planta, proliferação de espigas, espigas deformadas, grãos esparsos ou chochos, e o acamamento, provocado por plantas com poucas raízes. “É uma doença de ciclo longo, influenciada pela utilização de híbridos de milho menos resistentes e mais suscetíveis, e pela época em que a planta é infectada”, observou o painelista, ao ressaltar a importância de controlar e tentar evitar a disseminação do patógeno no início do desenvolvimento da cultura.
“As boas práticas só serão eficazes se forem adotadas pela maioria dos produtores de uma região”, afirmou Oliveira, ao defender o manejo das lavouras de milho mesmo antes do plantio, eliminando plantas voluntárias de milho tiguera (multiplicadoras da praga) e os milhos guachos das margens das lavouras. Na semeadura, não plantar próximo a lavouras mais velhas, pois o vetor migra por mais de 20kms usando correntes de vento. Escolher híbridos com maior tolerância e resistência aos enfezamentos, mas é importante rotacionar e diversificar os híbridos, registrados no Mapa. No plantio, utilizar sementes certificadas e tratadas com inseticidas indicados pelo Mapa, com aplicação no final da tarde e/ou à noite, e sincronizar a semeadura. Na colheita usar máquinas bem reguladas, evitando perdas de grãos e espigas que, se germinarem, dão origem às tigueras. O transporte em caminhões apropriados, sem dispersão de grãos pelas estradas, também foi aconselhado por Oliveira, que indica aijnda cuidados no pós colheita. “Faça rotação de culturas e evite plantar milho e gramíneas sobre milho, para que são sejam plantas abrigo para a cigarrinha”.
Sobre o manejo dos enfezamentos e das cigarrinhas, o entomologista salienta que nenhuma medida tomada de forma isolada será eficaz, não há medidas curativas, mas as ações devem ser preventivas, a partir das boas práticas agrícolas, que têm a função de reduzir a população do inseto vetor. Ele também aconselha “ter planejamento para antes, durante o plantio, na colheita e no pós colheita”, indicou, ao citar o controle biológico como “uma arma bastante importante para isso”.
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