Apesar da redução de doações, compreensão da importância do tema aumenta no país

 POR  EM 

Pesquisa Doação Brasil 2020, coordenada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e realizado pelo Instituto Ipsos, é considerado o maior estudo de abrangência nacional a mapear hábitos de doações da população brasileira. A iniciativa – lançada pela primeira vez em 2015 – tem como objetivo traçar o perfil do doador individual e apresentar suas características, como a frequência, beneficiários e, sobretudo, estimar o montante total arrecadado. 

De acordo com a pesquisa, o percentual de doadores caiu em relação a 2015, todavia cresceu o engajamento das classes sociais mais favorecidas. A redução ocorreu entre as pessoas com renda familiar abaixo de seis salários mínimos e cresceu entre aqueles que recebem acima desse montante. Com o aprofundamento da crise econômica, pessoas que ganhavam menos e eram doadoras passaram a ser beneficiárias de programas sociais de organizações da sociedade civil.

Em 2020, conforme o levantamento, cerca de dois terços dos brasileiros fizeram algum tipo de doação, sendo que 41% doou dinheiro e 37% contribuiu diretamente com organizações ou com iniciativas voltadas a questões socioambientais. Esses números, entretanto, representam uma queda significativa em relação a 2015, quando 77% dos brasileiros haviam doado e 46% tinham destinado doações em dinheiro para organizações e iniciativas socioambientais.

Essas porcentagens refletem no valor anual médio doado pela população que, em 2015 era de 240 reais e, em 2020, caiu para 200 reais. Essa redução teve impacto, por sua vez, sobre o montante total das doações. Em 2015, o valor foi de 13,7 bilhões de reais, o que representava 0,23% do Produto Interno Bruto (PIB). Já em 2020, a soma totalizou 10,3 bilhões.

Causas apoiadas

Além de contribuir para a redução das doações, a pandemia também mudou as prioridades dos brasileiros em relação às causas apoiadas. No ano de 2015, saúde e crianças estavam nos primeiros lugares na preferência. Já em 2020, o combate à  fome e à pobreza foi apontado por 43% dos respondentes do estudo como sendo a causa mais sensível – na sequência vieram crianças, saúde e idosos. A pesquisa viu também o surgimento de apoio a problemáticas como o aumento das pessoas em situação de rua.

“Essa foi uma mudança importante. Além disso, cresceu muito o percentual de brasileiros que doam para campanhas, coletivos e grupo de pessoas que se organizaram durante a pandemia para fazer alguma atividade. Então, caiu a destinação direta para uma organização, mas subiu a doação para esse tipo de campanha”, explica Paula Fabiani, CEO do IDIS.

De acordo com o levantamento, a contribuição para organizações e iniciativas socioambientais encolheu muito entre as classes menos favorecidas, passando de 32% para 25% na faixa com renda familiar até dois salários mínimos, e cresceu entre as classes com renda alta, de 51% para 58%.

Importância das doações para sociedade

Apesar da redução nas doações, mais de 80% da sociedade acredita que o ato de doar faz diferença e entre os não doadores, essa concordância chega a 75%.

“A crise financeira realmente afetou a cultura de doar, mas vemos um movimento positivo na sociedade. Caiu o número de pessoas que acha que não deve falar que faz doação, a satisfação com a doação cresceu de 85% para 94%, aumentou também a vontade de dar exemplo aos filhos, parentes e amigos com relação à doação, que era de 47% e foi para 82%”, aponta a especialista. 

Outro aspecto positivo apontado pela pesquisa é a opinião dos brasileiros sobre as organizações da sociedade civil, que evoluiu nos últimos cinco anos. A compreensão da população sobre a importância das ONGs no combate aos problemas socioambientais é de 74%, enquanto em 2015, era de 57%.

“Nota-se um aumento da confiança nas organizações da sociedade civil. As ONGs foram as primeiras a reagir na pandemia e a sociedade realmente ampliou uma visão positiva acerca das organizações sem fins lucrativos”, destaca Paula.

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