Pronunciamento do Ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, na Reunião Ministerial sobre o papel das Nações Unidas para a eliminação da violência e da discriminação contra pessoas LGBT à margem da 68ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
Nova York,
Excelentíssimo
Senhor Frans Timmermans, Ministro das Relações Exteriores dos Países
Baixos, por meio de quem saúdo demais Ministros e autoridades
de alto nível,
Excelentíssima Senhora Navi Pillay, Alta Comissária de Direitos Humanos,
Estimados Representantes da Sociedade Civil,
Senhoras e Senhores,
Permitam-me
iniciar minha intervenção manifestando meu apreço ao Ministro das
Relações Exteriores dos Países Baixos, Frans Timmermans, por
organizar este encontro, e à Alta Comissária das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, Navi Pillay, por sua liderança e por suas palavras.
Infelizmente,
nenhum país pode se dizer livre do flagelo da violência e da
discriminação baseadas em orientação sexual e identidade ou expressão
de gênero.
O Brasil não é uma exceção.
É
por essa razão que o Brasil tem sido e permanece sendo plenamente
comprometido com a elaboração e a implementação - por meio de um
processo
participativo e gradual - de medidas inovadoras de suspensão e de
prevenção desse tipo de violência e intolerância.
Não pouparemos esforços para lograr este objetivo – tanto na esfera interna quanto na internacional.
De fato, essas duas frentes estão fortemente ligadas.
As
iniciativas internacionais do Brasil refletem não apenas os objetivos
que queremos alcançar no plano doméstico; elas também demonstram
a nossa intenção de ajudar a construir um futuro no qual os membros da
família humana possam viver livres da violência e da discriminação.
Fizemos progressos significativos até agora.
O
Brasil foi o primeiro país no mundo a realizar, em junho de 2008, uma
Conferência Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas LGBT.
Desde
aquele ano, o Brasil tem assegurado aos transexuais a realização da
cirurgia de redesignação de sexo, de forma gratuita, pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
Em 2010, o Censo demográfico pesquisou, pela primeira vez, o número de casais homoafetivos autodeclarados em meu país.
Em
2011, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção de
Direitos de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (CNCD-LGBT) foi
estabelecido, e uma segunda Conferência Nacional foi realizada. Isso
ilustra o importante papel que o Brasil confere à sociedade civil para
garantir a efetividade das iniciativas que asseguram os direitos humanos
das pessoas LGBT.
Também
em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade
das uniões homoafetivas, o que permitiu que pessoas do mesmo
sexo contraiam matrimônio.
Outro
avanço importante foi a criação, em julho último, do Sistema Nacional
de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Gays,
Lésbicas, Travestis e Transexuais (conhecido como Sistema Nacional
LGBT). O Sistema deverá melhorar a coleta de dados e a coordenação de
esforços, de maneira transparente e participativa, para prevenir a
violência motivada por homo, lesbo ou transfobia.
Esses exemplos nacionais encontram paralelo em iniciativas lançadas ou apoiadas por meu país em foros internacionais.
O
Brasil introduziu uma Resolução sobre "Direitos Humanos e Orientação
Sexual" perante a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas
em 2003. A iniciativa, apesar de retirada, abriu caminho para novos
desdobramentos nos planos regional e internacional.
Em 2007, Brasil, Argentina e Uruguai co-patrocinaram o lançamento, nas Nações Unidas, dos Princípios de Yogyakharta.
No
ano seguinte, a Organização dos Estados Americanos adotou uma resolução
patrocinada por meu país sobre a prevenção da violência contra
pessoas LGBT.
O
Brasil também trabalhou exaustivamente, ao lado da África do Sul, da
Noruega e de outros parceiros, para alcançar a maioria necessária
à adoção, pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, da
Resolução 17/19, intitulada "Direitos Humanos, Orientação Sexual e
Identidade de Gênero". A necessidade de manter o ímpeto político em
relação a esse importante avanço levou meu país a sediar
um Seminário Regional em Brasília, em abril deste ano. Esse evento foi
seguido de iniciativas semelhantes realizadas em Katmandu, Paris e Oslo.
Prezados Representantes, meus amigos, meus amigos da sociedade civil,
Obtivemos
conquistas importantes nos últimos anos. Ao endossar essa Declaração
Ministerial histórica, percebo que estamos nos fortalecendo
e nos tornando cada vez mais unidos para enfrentar os desafios que
ainda estão à nossa frente.
Ao
planejar o futuro de nossa cooperação, o Brasil acredita que devemos
evitar as tentações do confrontacionismo. Precisamos favorecer uma
abordagem construtiva e inclusiva, com vistas a encorajar países de
todas as regiões a nos unirem na promoção dessa causa. Para tal, nosso
esforço deve ser universal, não-discriminatório, não-seletivo e
não-politizado. Adicionalmente, precisamos de uma estratégia
de mobilização e persuasão constantes. Estou convencido de que a
perseverança e o foco certamente nos trarão resultados significativos.
Ao
concluir, permitam-se reafirmar o firme apoio do Brasil a cada esforço
realizado no sentido de assegurar a todos os seres humanos o direito
de viverem livres da violência e da discriminação motivadas por sua
orientação sexual ou identidade ou expressão de gênero. Com esse
objetivo, seguiremos engajados no diálogo e na cooperação nos planos
bilateral, regional e multilateral. Nosso compromisso
nesse tema é sólido e assim permanecerá.
Eu gostaria de citar uma bela expressão que vejo do meu assento: "Direitos Humanos para todos, em todos os lugares".
Obrigado.
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