Enviado da ONU diz que Iêmen pode estar próximo do fim da guerrapor ONU Brasil |
Com o Iêmen mais uma vez em um momento crucial, o enviado especial da ONU que está tentando facilitar o processo de paz disse nesta quinta-feira (18) aos membros do Conselho de Segurança que apesar dos perigos de ser otimista, ele não pode deixar de pensar que o país pode estar finalmente se aproximando do fim da guerra.
"Uma autoridade muito importante da região disse recentemente que essa guerra pode terminar em um ano", afirmou Martin Griffiths. "Entendo isso como uma instrução", acrescentou, apontando para recentes reuniões positivas com a liderança tanto da coalizão pró-governo quanto do movimento rebelde houthi, que expressou "desejo unânime" de avançar em direção a uma solução política rapidamente.
Ele disse que o progresso na implementação do Acordo de Estocolmo em dezembro, que forneceu uma estrutura na crucial cidade portuária de Hodeida, foi essencial, e elogiou o trabalho do general Michael Lollesgaard, que lidera a missão de monitoramento da ONU, pelo "avanço importante" sobre detalhes operacionais acordados com as partes em conflito.
“Minha esperança é de que Hodeida possa finalmente nos permitir focar no processo político antes do fim deste verão (no Hemisfério Norte). O Iêmen não tem tempo a perder”, disse o enviado especial. Embora o cessar-fogo continue amplamente, ele afirmou estar preocupado com outras linhas de frente, especialmente com os contínuos ataques houthi à infraestrutura civil em toda a fronteira saudita.
Sem fazer referências específicas, Griffiths notou os perigos de o Iêmen ser "arrastado para uma guerra regional", após semanas de tensão nas principais rotas marítimas do Golfo. “As partes iemenitas devem desistir de quaisquer ações que levem o Iêmen nessa direção. Precisamos evitar isso para reduzir as tensões regionais e salvar vidas. Temos que ver a redução da escalada da violência agora.”
Há chance de acordo para retomada da ajuda alimentar
O acordo sobre a retomada total da ajuda alimentar a algumas áreas do Iêmen controladas pelos rebeldes houthi está “ao alcance”, disse o chefe do Programa Mundial de Alimentos (PMA) a membros do Conselho de Segurança, após sua decisão relutante de suspender ajuda no mês passado.
David Beasley disse que a suspensão — que se deveu ao persistente desvio por parte de alguns líderes houthi de suprimentos emergenciais de alimentos de seus beneficiários civis — começou na capital, mas, apesar disso, o número total de pessoas que estão sendo atendidas subiu de 10,6 milhões para 11,3 milhões, "e continuará a aumentar".
"Espero que possamos aproveitar esse momento positivo para resolver essas questões pendentes nos próximos dias, se não em horas", disse ele. “Isso é o que o povo do Iêmen merece e exige de nós.”
Pedindo que o trabalho do PMA seja despolitizado pelos líderes do Iêmen, ele disse que a lei humanitária protegia a entrega “neutra, imparcial e independente” de itens essenciais.
Apesar da suspensão limitada de alimentos (suprimentos continuaram sendo fornecidos para os mais necessitados), Beasley disse que “a verdadeira história tem sido — e deve continuar a ser — a catástrofe humanitária que continua a se desenvolver no Iêmen”.
Ele observou que, para continuar atingindo os mais vulneráveis, o PMA precisa de 1,2 bilhão de dólares nos próximos meses, mas o financiamento atual é inferior à metade disso.
“Continuem sendo generosos com suas contribuições. E para aqueles que fizeram promessas, cumpram-as. Mas devo dizer que estamos chegando a um ponto em que nenhuma quantia de dinheiro no mundo realmente aliviará o sofrimento do povo iemenita”, disse ele, acrescentando que “estamos nos aproximando rapidamente desses limites”.
Pedidos do Conselho de Segurança "não foram atendidos", diz Lowcock
As exigências do Conselho para que as partes em conflito do Iêmen respeitem o direito internacional humanitário, forneçam acesso irrestrito a civis e por mais recursos para prestar serviços que salvem vidas "não foram atendidas", disse Mark Lowcock, chefe do departamento de ajuda humanitária da ONU.
Com 30 linhas de frente ativas em todo o país, os dois lados continuam lutando, e o coordenador humanitário e chefe do OCHA disse que sua longa busca por um cessar-fogo nacional era mais necessária do que nunca.
O acesso a civis e a interferência no esforço de ajuda foram muito além dos desvios de alimentos citados pelo PMA, disse ele, observando atrasos, negações de passagem e a retenção de permissões vitais de ambos os lados, o que colocou vidas em risco. "Embora os desafios de acesso sejam generalizados, eles não estão impedindo a maior operação de ajuda do mundo", acrescentou ele.
Referindo-se ao Plano de Resposta Humanitária ao Iêmen, onde os doadores prometeram 2,6 bilhões de dólares em fevereiro, Lowcock disse que embora a maioria dos doadores tenha pagado mais de 75% de suas promessas, ainda há um longo caminho a percorrer, com apenas 34% do montante prometido efetivamente pago até agora.
"Aqueles que fizeram as maiores promessas — os vizinhos do Iêmen na coalizão — pagaram até agora uma proporção modesta do que prometeram." Isso pode provocar cortes nos esforços humanitários, disse ele aos membros do Conselho.
“As agências estão começando a suspender algumas campanhas de vacinação regulares que visam 13 milhões de pessoas, incluindo 200 mil bebês. O trabalho em 30 novos centros de alimentação em áreas com os piores níveis de fome também foi interrompido. Até 60 centros existentes poderão fechar nas próximas semanas, colocando pelo menos 7 mil crianças desnutridas sob risco imediato de morte”, disse o chefe da entidade, citando outros exemplos.
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