Conheça história de duas meninas que participam do projeto ‘Uma Vitória Leva à Outra’

por ONU Brasil
Marta Vieira da Silva, embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres. Foto: ONU Mulheres/Ryan Brown
Marta Vieira da Silva, embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres. Foto: ONU Mulheres/Ryan Brown

Em fevereiro, antes que medidas de contenção de coronavírus fossem implementadas, algumas meninas do projeto Uma Vitória Leva a Outra (UVLO), programa conjunto da ONU Mulheres com o Comitê Olímpico Internacional - que oferece sessões semanais de prática esportiva e de habilidades de vida para meninas adolescentes - conheceram a estrela do futebol internacional e a embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, Marta Vieira da Silva.
Agora, como as meninas estão confinadas em suas casas devido à crise do novo coronavírus, o sentimento de esperança e as mensagens fortalecedoras que muitas delas receberam ao conhecer Marta são ainda mais significativas. Conheça a história de duas jovens que participam do projeto Uma Vitória Leva a Outra.
Kathely Rosa, 19 anos, goleira
Kathely Rosa mora na Maré, uma comunidade vulnerável no norte da cidade do Rio de Janeiro, com a mãe, que a criou sozinha. Kathely tem um irmão mais novo que mora com uma tia.
Jogar futebol é a maior paixão de Kathely e a primeira coisa que ela faz pela manhã. Kathely é goleira, uma posição desafiadora para alguém com 1,55m de altura, mas isso não a impede de jogar duro e proteger a rede. Quando Kathely compartilhou seu sonho de se tornar uma jogadora de futebol profissional, as pessoas ao seu redor disseram que o futebol era coisa de menino. Quando ela tentou brincar com os meninos, eles recusaram e só permitiram que ela assistisse.
Seu irmão, quatro anos mais novo, teve uma experiência completamente diferente: teve aulas de futebol desde novo, tinha bola, uniforme completo, oportunidade de treinar em um clube, dinheiro para participar de campeonatos e processos de seleção. "Eu não tenho nada”, contou a jovem goleira.
Mas uma paixão é uma paixão. E Kathely decidiu treinar assistindo vídeos on-line para aprender as táticas e praticar sozinha. Um dia, ela estava pesquisando várias maneiras de driblar e encontrou um vídeo mostrando 20 maneiras diferentes que a jogadora brasileira de futebol, Marta Vieira da Silva, usou para marcar um gol.
Foi assim que Kathely descobriu a Marta. “Aprendi futebol principalmente com figuras masculinas, porque o futebol feminino não é tão visível. Mas fiquei fascinada quando vi o que a Marta fazia com uma bola”, lembrou a jovem goleira.
Em 22 de fevereiro, Kathely Rosa realizou um sonho juntamente com 15 meninas do projeto Uma Vitória Leva a Outra (UVLO): ela conheceu a Marta pessoalmente no Rio de Janeiro. Marta estava sendo homenageada por uma escola de samba naquele dia por sua incrível jornada como jogadora de futebol e como modelo para mulheres e meninas dentro e fora do campo.
As meninas do projeto Uma Vitória Leva a Outra foram convidadas a participar do desfile da escola de samba, precedendo o carro alegórico de Marta, e representando as gerações mais jovens inspiradas por ela. Antes, enquanto as meninas ensaiavam a letra da música do desfile, Marta apareceu de surpresa.
Marta sentiu-se honrada por estar com as jovens do projeto. "Sempre que ouço um pouco de suas histórias e conheço as coisas importantes que vocês estão aprendendo no programa, isso se torna uma fonte de esperança para mim. Isso me faz perceber que estamos fazendo a coisa certa para capacitar as meninas a alcançar seus objetivos e fazer o que querem, mesmo que a sociedade acredite que é algo feito para homens. Estou muito feliz por estar aqui com vocês”, disse a jogadora Marta.
Para a coordenadora do Programa Global de Esportes da ONU Mulheres, Thays Prado, a Marta é a maior inspiração para as garotas de Uma Vitória Leva a Outra. "Durante as sessões de habilidades do programa, elas costumam citá-la como uma referência a ser seguida. Ter a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, ser vista e ouvida por ela e ouvir Marta dizer ‘você pode fazer’ é uma maneira poderosa de inspirar as meninas a continuarem lutando suas batalhas e lutando por mudanças”, afirmou a coordenadora.
Kathely Rosa está fazendo a diferença em sua comunidade. Com tempo e esforço, os meninos começaram a aceitá-la em suas equipes. Como a única garota que pode jogar no time dos garotos, Kathely trabalha duro para dar um bom exemplo. “Preciso provar que sou tão boa quanto eles, que não sou frágil e que outras meninas podem jogar tão bem quanto eu. Como esses meninos ainda são jovens, meu exemplo pode ajudá-los a abrir suas mentes e entender que as mulheres podem conseguir qualquer coisa”, concluiu a jovem goleira.
É também por isso que ela escolhe equipes femininas ao jogar videogame com o irmão.
Kathely agora está se preparando para os exames para ingressar em uma universidade pública. Inspirada em sua mãe, a única mulher em sua família com um diploma universitário, ela quer se tornar professora de Educação Física – uma profissão que a posicionará para capacitar sua comunidade com atividades de saúde e formação de equipes.
Segunda Kathely, existem muitas garotas com muito talento. Elas só precisam ser treinadas adequadamente. “Vou me formar, ser treinadora e criar um time de futebol feminino com meninas da favela. Marta me disse que, se eu realmente acredito no que quero fazer, nada é impossível. Pode parecer um conselho óbvio, mas eu precisava ouvir isso dela. Ela disse que preciso me concentrar e persistir, e farei isso”, concluiu a jovem goleira.
Hingride Marcelle Leite de Jesus, 20 anos, jogadora de rugby
Hingride Marcelle Leite de Jesus, participante do projeto Uma Vitória Leva a Outra também ficou emocionada ao conhecer Marta. Assim como Kathely, Hingride também enfrentou resistência quando começou a jogar rugby, mas isso a incentivou ainda mais, fortalecendo sua determinação: “Percebi que uma mulher jogando rugby muda a mente das pessoas sobre o que somos capazes de fazer. Por meio do rugby, aprendi a fazer escolhas, entender o que eu deveria focar e o que eu tinha que deixar ir, respeitar meus limites e me expressar de maneira mais eficaz”, lembrou a jovem.
Hingride faz parte do programa desde 2019 e aproveita todas as oportunidades para conversar com sua mãe e outras mulheres de sua família sobre os direitos das mulheres. “Como mulheres, não temos espaços onde possamos conversar sobre nossos problemas, fazer perguntas e expressar nossas opiniões. Percebi o quão importante era ir lá semanalmente e conversar com outras meninas de várias origens, sobre nossos corpos, sobre gênero, raça, sexualidade e violência. Graças a esse espaço seguro, eu pude compartilhar coisas que nunca tive coragem de contar a ninguém antes. Isso é o que eu mais aprecio no programa Uma Vitória Leva a Outra – a criação de espaços seguros para meninas”, contou a jogadora de rugby.
No entanto, Hingride e outras pessoas perderam acesso a essa comunidade vital e espaço seguro devido à crise da COVID-19, pois as medidas de contenção mantêm as meninas em casa. Sem a prática semanal, as meninas são deixadas a enfrentar situações potencialmente perigosas em casa por conta própria, muitas também sem acesso à Internet.
Mesmo antes da crise da COVID-19 interromper a vida, Hingride já estava tomando medidas para ajudar sua comunidade no futuro. Ela concluiu um treinamento para se tornar treinadora de esportes, colocando-a no caminho de se tornar uma facilitadora do programa UVLO e trabalhar com meninas mais jovens em sua comunidade.
Enquanto as medidas de contenção são implementadas, as meninas precisam do apoio que o UVLO fornece mais do que nunca. Por isso, é crucial que as estratégias de recuperação priorizem a construção de programas esportivos populares para mulheres e meninas e que haja recursos disponíveis para meninas que possam ter sido afetadas pela violência de gênero e outros desafios durante a crise.

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