ARTIGO: Todos na luta contra uma pandemia sem precedentes

por ONU Brasil
União é imprescindível para vencer os desafios da pandemia do novo coronavírus - Foto: Gerd Altmann/Pixabay
União é imprescindível para vencer os desafios da pandemia do novo coronavírus - Foto: Gerd Altmann/Pixabay

Apenas trabalhando em conjunto o mundo poderá enfrentar as consequências devastadoras da COVID-19, afirma o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em artigo de opinião publicado em jornais de todo o mundo.
Ele defende testagem e identificação de contatos, quarentenas, tratamentos e medidas de segurança para equipes médicas, combinadas com a restrição de movimento e de contatos até que apareçam terapias e vacinas.
Leia o artigo completo:
Só trabalhando junto o mundo poderá enfrentar a pandemia da COVID-19 e suas consequências devastadoras. Numa reunião virtual de emergência, realizada na última quinta-feira, os líderes do G-20 deram os primeiros passos na direção certa. Mas estamos ainda longe de conseguir uma resposta global, coordenada e articulada, capaz de ir ao encontro da magnitude sem precedentes daquilo que enfrentamos.
Longe de conseguir achatar a curva da infecção, estamos ainda muito aquém. Inicialmente a doença demorou 67 dias para infectar 100.000 pessoas; em breve mais de 100.000 serão infectadas diariamente. Sem uma ação acordada e corajosa, o número de novos casos escalará certamente até os milhões, levando os sistemas de saúde à ruptura, as economias a uma queda abrupta e as pessoas ao desespero, com os mais pobres sendo os mais atingidos.
Devemos nos prepararmo para o pior e fazer tudo para evitá-lo. Aqui está uma chamada para ação dividida em três fases e baseada na ciência, na solidariedade e nas políticas de bom senso.
Primeiro: suprimir a transmissão do coronavírus.
Isto requer uma testagem agressiva e precoce com identificação de contatos, complementada com quarentenas, tratamentos e medidas que cuidem da segurança das equipes na linha de frente da resposta, combinadas com a restrição de movimento e de contatos. Estes passos, apesar da perturbação que provocam, devem ser mantidos até que apareçam terapias e vacinas.
Crucialmente, este esforço robusto e cooperativo deve ser orientado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), membro da família das Nações Unidas; os países que estão agindo isoladamente – como devem fazer para sua população– não conseguirão fazê-lo para todos.
Segundo: enfrentar a devastadora dimensão social e econômica da crise.
O vírus espalha-se como um incêndio descontrolado e é provável que avance rapidamente para o hemisfério sul, onde os sistemas de saúde enfrentam limitações, as pessoas são mais vulneráveis, e milhões vivem em favelas densamente povoadas ou em acampamentos de refugiados e deslocados. Alimentado por estas condições, o vírus poderá arrasar o mundo em desenvolvimento e reemergir mesmo em lugares onde já havia sido eliminado. No nosso mundo tão interligado somos apenas tão fortes quanto o mais fraco sistema de saúde.
Temos, claramente, que combater o vírus para toda a humanidade, com foco nas pessoas, especialmente nos mais afetados: mulheres, idosos, jovens, trabalhadores com salários baixos, pequenas e médias empresas, na economia informal e nos grupos vulneráveis.
As Nações Unidas acabaram de lançar um relatório que documenta como o contágio viral se transformou em contágio econômico, definindo o financiamento necessário para responder aos choques. O Fundo Monetário Internacional anunciou que entramos numa recessão tão ruim ou pior do que a de 2009.
Precisamos de uma resposta abrangente e multilateral que ascenda a uma percentagem de dois dígitos do Produto Interno Bruto global.
Os países desenvolvidos conseguem fazê-lo sem ajuda e alguns estão realmente fazendo. Mas devemos aumentar massivamente os recursos disponíveis do mundo desenvolvido, expandindo a capacidade do FMI, nomeadamente através da emissão de Direitos de Saque Especiais (DSE), e de outras instituições financeiras internacionais, de forma a que estas possam rapidamente injetar recursos nos países que deles necessitem. Eu sei que não é fácil, tendo em conta que os países se confrontam com despesas internas cada vez maiores e de valores recorde. Mas esse gasto será em vão se não controlarmos o vírus.
Operações coordenadas entre os bancos centrais podem, também, trazer liquidez às economias emergentes. O alívio das dívidas tem que ser uma prioridade – incluindo a renúncia imediata ao pagamento de juros em 2020.
Terceiro: recuperar melhor.
Não podemos simplesmente voltar ao que era antes do ataque da COVID-19, com sociedades desnecessariamente vulneráveis a crises. A pandemia relembrou-nos, da forma mais dura, do preço que pagamos pela fraqueza dos nossos sistemas de saúde, da proteção social e dos serviços públicos. Sublinhou e realçou as desigualdades, acima de tudo a desigualdade de gênero, desnudando como a economia formal se sustenta à custa de um trabalho de assistência invisível e não remunerado. Colocou em destaque os correntes desafios dos direitos humanos, incluindo o estigma e a violência contra as mulheres.
Agora é o tempo de redobrar os nossos esforços para construir economias e sociedades mais inclusivas e sustentáveis, que sejam mais resilientes face às pandemias, às alterações climáticas e aos outros desafios globais. A recuperação deve conduzir a uma economia diferente. O nosso plano continua a ser a Agenda para os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável de 2030.
O Sistema das Nações Unidas está totalmente mobilizado: apoiando a resposta dos países, colocando as nossas cadeias de abastecimento à disposição de todos e apelando a um cessar-fogo global.
Acabar com a pandemia em todo o mundo é tanto um imperativo moral como uma questão de sábio interesse próprio. Neste momento excepcional não podemos recorrer às ferramentas habituais. Tempos extraordinários exigem medidas extraordinárias. Enfrentamos um desafio colossal que requer uma ação decisiva, coordenada e inovadora, da parte de todos e para todos.

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