Governo quer tornar crime fraude com órteses e próteses
O governo federal vai encaminhar ao Congresso
Nacional em regime de urgência um projeto de lei para criminalizar
fraudes no fornecimento, na aquisição e na prescrição de órteses e
próteses no Brasil. A medida foi anunciada hoje (7) pelo ministro da
Saúde, Arthur Chioro, e é resultado de um grupo de trabalho criado em
janeiro com os ministérios da Justiça e da Fazenda.
A proposta
tipifica, no Artigo 171 do Código Penal, o crime de estelionato,
responsabilizando administrativa, civil e criminalmente os envolvidos em
condutas irregulares e ilegais no setor. Com a aprovação do texto,
passa a ser crime a obtenção de lucro ou vantagem ilícita na
comercialização, prescrição e no uso de órteses e próteses. A Polícia
Federal deve criar uma divisão especial de combate a fraudes e crimes
contra a saúde.
Além da responsabilização penal, estão previstas
ações para maior monitoramento do mercado. O grupo propõe a padronização
de nomenclatura e a criação e implantação do Registro Nacional de
Implantes, com informações técnicas e econômicas dos dispositivos móveis
implantáveis, possibilitando o rastreamento desde a produção até a
implantação no paciente.
Haverá também envio de correspondência
para as pessoas que passaram por esse tipo de procedimento médico com a
data de entrada na unidade de saúde, o dia da alta médica, o motivo da
internação e o valor pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pelo
tratamento.
Chioro destacou que foram identificadas
irregularidades no setor e que unidades de saúde recebem lucro entre 10%
e 30%, resultado da grande diferença entre o preço final do produto e o
custo final. No caso de uma prótese de joelho, por exemplo, o valor
final pode ser 8,7 vezes maior.
Há ainda, segundo o ministro,
diferenças regionais de preço, fazendo com que o mesmo marca-passo custe
entre R$ 29 mil e R$ 90 mil, dependendo da região. O preço desse tipo
de produto no Brasil gira em torno de US$ 20 mil, enquanto em países da
Europa o valor fica entre US$ 4 mil e US$ 7 mil. "Encontramos
distribuidores exclusivos por região que cobravam preços distintos pelo
mesmo produto. É absurdamente inexplicável", completou.
Para
Chioro, o cenário é decorrente de características do setor, como a
grande variedade de produtos, a falta de padronização de informações e a
ausência de protocolos de uso. "Na maior parte das vezes, esses
produtos são utilizados em situação de urgência e emergência. O usuário
não tem condições de avaliar se é o melhor caminho e fica absolutamente
na mão do especialista."
O relatório final do grupo de trabalho e o
projeto de lei serão entregues ainda hoje às comissões parlamentares de
inquérito da Câmara dos Deputados e do Senado que apuram fraudes com
órteses e próteses.
O ministro interino da Justiça, Marivaldo
Pereira, espera que o texto comece a tramitar na Casa logo após o
recesso. Ele lembrou que o foco do grupo de trabalho foi o usuário da
rede pública de saúde, pego em um momento de grande fragilidade.
"Não
se buscou uma solução mágica para atacar o problema", disse Pereira, ao
ressaltar que o conjunto de medidas tem como objetivo melhorar a
qualidade da informação disponível ao público, melhorar a concorrência
no setor e a punição para os que praticarem fraudes.
O governo
federal criou outro grupo de trabalho, que terá prazo de 30 dias para
entregar propostas, monitorar o mercado e dar mais transparência ao
setor. A ideia é que as medidas possibilitem a equiparação dos preços
praticados no mercado nacional a patamares próximos dos praticados no
mercado internacional.
O grupo será composto por gestores da Casa
Civil e dos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, da Justiça e da Fazenda e vai discutir propostas de
monitoramento da indústria, aumento da concorrência e ampliação da
oferta.
Da Agência Brasil.
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