O PEDIATRA VAI ÀS COMPRAS
Revista VEJA


 Claudio Gatti  -  20/10/2012
Um adulto com bons hábitos alimentares é formado ainda na infância mas também não se podem privar os pequenos de uma ou outra guloseima. como encontrar o equilíbrio correto entre prazer, disciplina e saúde?

E preciso redobrar a atenção com o que vem das prateleiras dos supermercados, onde não faltam opções de gostosuras repletas de açúcar, gorduras saturadas e sódio. Escolhas erradas podem significar um atalho para doenças como a obesidade, a hipertensão e o diabetes. Para ajudar os pais a fugir das armadilhas. VEJA levou o pediatra e nutrólogo Artur Figueiredo Delgado, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, às compras. Com a cestinha em mãos, o médico selecionou as melhores opções. Para compor refeições principais, café da manhã, lanchinhos e sobremesas para crianças com mais de 2 anos. Legumes, verduras e frutas frescas LJLA não aparecem na lista do médico, pois são itens obrigatórios na despensa de qualquer família.

LEITE INTEGRAL OU SEMIDESNATADO
Por quê: o leite de vaca deve fazer parte da dieta das crianças a partir de 1 ano de idade que deixaram de ser amamentadas - as meninas, em particular, precisam do estoque de cálcio para prevenir a osteoporose no futuro. O desnatado não é recomendado aos pequenos, por não conter os ácidos graxos essenciais de que eles necessitam na fase de crescimento. Já o integral e o semidesnatado contêm a mesma quantidade de proteína e cálcio; se seu filho estiver acima do peso, prefira o segundo. O leite deve ser servido preferencialmente in natura, mas pode ser batido com frutas ou levar uma porção mínima - frise-se, mínima - de achocolatado em pó ou café. A regra é simples: quanto mais clarinho o conteúdo do copo, melhor. O médico recomenda o consumo de três copos de leite por dia. As bebidas achocolatadas prontas, vendidas em caixinha, não devem entrar nessa conta. "Os achocolatados industrializados são ricos em açúcar e gordura e não oferecem os benefícios do cálcio e da proteína do leite", diz o pediatra.

ARROZ E FEIJÃO
Por quê: a combinação é a fonte mais saudável de carboidrato, proteína, vitaminas e sais minerais nas principais refeições do dia. O macarrão, prato preferido de dez em cada dez crianças, fornece apenas carboidratos e pode contribuir para o sobrepeso infantil - portanto, deve ser servido no máximo duas vezes por semana, em companhia de legumes e carne ou outra proteína. O macarrão instantâneo, com elevado teor de sódio, deve ser riscado do cardápio. "Um prato de macarrão instantâneo pode conter 2.5 gramas de cloreto de sódio - ou seja, toda a quantidade de sódio diária que um adulto pode consumir", explica Delgado.

QUEIJOS BRANCOS E GELEIAS
Por quê: para acompanhar o pãozinho, o pediatra sugere queijos brancos, como frescal, cottage e ricota, que apresentam baixo teor de gordura saturada e são ricos em cálcio e proteína. Outra opção é a geleia sem adição de açúcar - mas também sem adoçantes artificiais.

ÁGUA E ÁGUA DE COCO
Por quê: poucas crianças têm o hábito de beber água, embora ela seja essencial para o bom funcionamento gastrointestinal. Para completar o cardápio de bebidas, valem os sucos de frutas frescas e a água de coco. Já os sucos artificiais, de caixinha, são um fator importante na obesidade infantil. "É um engano achar que a substituição do refrigerante pelo suco industrializado é saudável. E essa falsa impressão pode resultar no consumo exagerado de um produto rico em sódio e açúcar", explica o médico. Os sucos à base de soja também não oferecem benefícios. "Eles são muito calóricos e trazem poucos nutrientes para a criança", diz o médico. Água gaseificada também hidrata, mas deve ser evitada por conter sódio. Por fim, os refrigerantes devem ficar reservados para situações especiais, como festinhas de aniversário ou o almoço de domingo. O consumo habitual, além de promover o sobrepeso, pode causar cólica e gastrite nas crianças.

PICOLÉ DE FRUTAS
Por quê: para saciar o desejo por sorvetes, o pediatra indica picolés de frutas. Prefira os de limão ou abacaxi, que apresentam menos corantes que os de uva, por exemplo, o que reduz os riscos de alergias alimentares. Já os sorvetes cremosos, de massa, são contraindicados no dia a dia, por trazerem gordura na composição. Como os refrigerantes, devem ser reservados para ocasiões especiais.

FRUTAS SECAS E BARRAS DE CEREAIS
Por quê: damascos secos e uvas-passas são ricos em fibras e antioxidantes, que combatem os radicais livres, e constituem uma boa opção de lanchinho saudável. As barras de cereais -sem chocolate, que apenas acrescenta gordura e açúcar ao alimento - são uma fonte energética de rápida combustão, ideal para crianças que praticam atividades físicas.

PEIXES E OVOS
Por quê: até a adolescência, as crianças precisam ingerir porções diárias de proteínas. Ovos e carnes magras, como frango e peixe, são ideais para suprir essa necessidade. O médico recomenda particularmente o consumo de peixe, fonte também de ômega-3, que ajuda no desenvolvimento neurológico e imunológico, ao menos duas vezes por semana. Os ovos, que saíram da lista de vilões da saúde, são bem-vindos no cardápio infantil: a clara, rica em proteínas, pode ser consumida diariamente, e a gema, fonte de colina, substância essencial na constituição das membranas celulares, entra na dieta quatro vezes por semana. Os embutidos e as carnes industrializadas são abundantes em sódio e, assim, ficam de fora da lista de compras do pediatra.

BISCOITO INTEGRAL
Por quê: além de conterem menos açúcar e gordura que as versões convencionais, as bolachas e os cookies integrais são ricos em fibras, menos calóricos e menos agressivos aos dentes. Os recheados, que a criançada adora, são os vilões do mundo dos biscoitos. "Eles contêm gordura hidrogenada, que age como a gordura saturada - ou seja, aumenta os níveis de triglicérides e colesterol ruim", explica Delgado.

IOGURTE NATURAL
Por quê: além de conter cálcio e proteínas, o iogurte natural integral está livre de aromatizantes e corantes, presentes nos que têm sabor de fruta. A opção mais saudável é misturar ou bater o natural com frutas frescas.

PÃO INTEGRAL
Por quê: pães contêm grande quantidade de gordura vegetal e sal. A alternativa são os integrais, que, embora também calóricos, são ricos em fibras. Para prevenir a obesidade, é preciso ater-se ao consumo moderado - no máximo duas fatias diárias do pão de forma integral.

GELATINA
Por quê: fonte de proteína em forma de colágeno - que, por sinal, não substitui a proteína das carnes e dos ovos -, ela agrada a grande parte das crianças.

E no setor de perfumaria...
A vaidade precoce das meninas antecipou o interesse por cosméticos. Na infância, porém, o sistema imunológico da criança se encontra em pleno desenvolvimento e não está preparado para lidar com produtos químicos. "Quanto mais cedo a criança entrar em contato com as substâncias químicas presentes nos cosméticos, maiores são os riscos de ela desenvolver alergias na vida adulta", diz a dermatologista Ana Paula Meski, do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Ou seja: vale a pena ceder à insistência de sua filha agora e, talvez, impedi-la assim de usar maquiagem quando for adulta? Coceira e vermelhidão não são as únicas reações alérgicas. "Os produtos podem ainda provocar reações no sistema respiratório, como tosse e coriza, ou desencadear crises em crianças com asma e bronquite", explica o médico Antônio Carlos Madeira de Arruda, do Departamento de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

PELE
Maquiagem, esmalte e hidratante
Os produtos desenvolvidos para adultos contêm uma grande quantidade de conservantes, corantes e fixadores.
Como a pele da criança é naturalmente mais seca que a do adulto, devido à baixa produção hormonal, ela absorve com facilidade esses componentes químicos. Prefira produtos da linha infantil, apenas para uso eventual, e faça o teste: a maquiagem deve sair com uma lavagem simples e rápida. A dificuldade em removê-la indica maior teor de fixadores

CABELOS
Xampu e condicionador
No dia a dia, crianças devem usar xampu e condicionador infantis, que são neutros e não agridem o couro cabeludo sensível. Cabelos muito ressecados podem ser lavados com xampu hidratante para adultos apenas uma vez na semana. O uso de cremes leave-in infantis, para evitar o chororô na hora de desembaraçar, deve ficar restrito também a um único dia da semana. Atenção à criança que passa a tomar banho sozinha e não enxágua corretamente os cabelos: não é raro o resíduo do xampu ser confundido com caspa

Tintura
Fazer luzes só em algumas mechinhas parece tão inocente -mas a agravante das tinturas de cabelos é o contato permanente da criança com substâncias agressivas como amónia e água oxigenada. O ideal é deixar o uso de tintura e outros produtos químicos nos cabelos para depois da primeira menstruação, quando a liberação de hormônios estimula a produção das glândulas sebáceas e a pele e o couro cabeludo recebem uma camada protetora que reduz a absorção dos agentes químicos.

Pezinhos confortáveis
A minicelebridade Suri, filha dos atores Tom Cruise e Katie Holmes, começou a desfilar pelas ruas com sapatos de saltinho a partir dos 3 anos de idade. Veja o que diz o ortopedista pediátrico Cláudio Santili, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, sobre calçados que podem atrapalhar o desenvolvimento da criança ou simplesmente trazer incômodo.

SAPATOS COM SALTINHO
Eles devem ser evitados até os 14 anos, período de í crescimento acelerado da criança. Nessa fase, o uso prolongado de saltinhos pode provocar o encurtamento dos tendões de aquiles e da musculatura posterior das pernas. Além disso, a instabilidade na região do tornozelo, aliada ao excesso de energia da criançada, pode resultar em quedas e consequentes torções ou fraturas. Para os eventuais momentos em que a insistência da filha vence a resistência dos pais, os saltos nunca devem ultrapassar 2 centímetros e o passeio tem de ser breve

SANDÁLIAS DE DEDO
Antes dos 6 anos, a criança ainda não tem a estabilidade necessária para andar confortavelmente calçando sandálias de dedo, aquelas sem as tiras traseiras. O solado desliza de um lado para o outro quando a criança caminha, e ela acaba apoiando o calcanhar no chão. Sofrem mais os pequenos pronadores, que pisam com a parte interna dos pés e têm mais dificuldade para manter os chinelinhos no lugar certo.

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