Índios querem que sejam cumpridas condições para amenizar efeitos negativos
Por Redação TN / Pedro Peduzzi, Agência Brasil
Por Redação TN / Pedro Peduzzi, Agência Brasil
Cerca de 200 índios xikrins e jurunas estão
acampados desde o dia 21/6 nas obras da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte, na tentativa de acelerar o cumprimento das condicionantes
destinadas a amenizar os efeitos negativos da usina para as populações
indígenas afetadas. De acordo com a colaboradora do movimento, Rafaela
Ngrenhdjan Xikrin, não há ligação entre esta ocupação e a ocorrida
durante o encontro Xingu+23, iniciado no último dia 13/6 em Altamira
(PA).
“Nosso movimento é contrário a ações como
as dos mundurukus, até porque eles não são daqui e não serão afetados
pela obra”, disse Rafaela Xikrin à Agência Brasil. O Consórcio
Construtor Belo Monte (CCBM) informou que a primeira ocupação resultou
na depredação de 35 salas. Pelo menos 50 computadores foram quebrados,
notebooks e rádiocomunicadores foram furtados e dezenas de aparelhos de
ar condicionado foram danificados. A estimativa, segundo o consórcio, é
um prejuízo superior a R$ 500 mil.
A organização
do movimento responsável pela ocupação atual está aguardando, para os
próximos dias, a chegada de outros 100 índios das etnias Paracanã e
Xipaia para reforçar a manifestação nas obras da usina. Entre as
reivindicações apresentadas pelos xikrin e juruna acampados está a
implantação do Plano Básico Ambiental (PBA), destinado a estabelecer e
efetivar os programas de compensação e mitigação dos impactos já
sentidos na região pelos índios.
Eles cobram
também a definição da situação fundiária das terras indígenas Terra
Wangã, Paquiçamba, Juruna do Km 17 e Cachoeira Seca, além da construção
de mais estradas, como alternativa ao transporte fluvial que será
prejudicado pela barragem e pela redução da vazão do Rio Xingu. Outra
condicionante cobrada pelos índios acampados é relativa à falta de
investimentos de infraestrutura necessários às aldeias impactadas,
visando a garantir captação de água potável nas da Volta Grande do
Xingu.
“Nossas lideranças não querem a
participação de outros movimentos porque isso pode comprometer nosso
objetivo, que é cobrar o cumprimento das condicionantes previstas”,
disse a colaboradora xikrin. “Essa ocupação conta apenas com a
participação de índios, para evitar o risco de ser descaracterizada ou
manobrada. Em princípio, não somos contrários à obra, mas poderemos
passar a ser, caso as condicionantes [previstas] não sejam cumpridas”,
argumentou.
O CCBM avalia a atual ocupação como
pacífica. De acordo com a assessoria do consórcio, os índios que
participaram da primeira ocupação “eram de Mato Grosso e chegaram ao
local com crachás, acompanhados de manifestantes não indígenas que
integram organizações não governamentais (ONGs) [ligadas ao Movimento
Xingu Vivo], notadamente contrárias à construção da hidrelétrica”.
Consultada
pela Agência Brasil, a Fundação Nacional do Índio (Funai) confirmou que
não há aldeias munduruku nas áreas a serem influenciadas pela obra. De
acordo com a assessoria do órgão, os munduruku mais próximos estão na
região da Usina de Teles-Pires, em Mato Grosso.
A
assessoria de comunicação do Movimento Xingu Vivo reiterou à Agência
Brasil que não houve qualquer participação de seus integrantes na
quebradeira ocorrida durante a primeira ocupação, à época do Xingu+23 –
evento promovido por ela. “Nenhum dos nossos membros participou da
quebradeira; nenhum dos nossos integrantes mexeu em qualquer caneta do
CCBM; e não fizemos qualquer incitação para que a invasão acontecesse”,
garantiu a assessora Verena Glass.
Perguntado
sobre a nova ocupação de índios nas obras de Belo Monte, o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse
que o movimento atual “faz parte do direito de protesto”, e que os
índios têm o direito de manifestar suas preocupações.
“Nosso
pessoal está lá dialogando [com eles] e, assim como outras vezes,
vamos, por meio de métodos pacíficos, superar essa questão. Belo Monte
não tem como voltar atrás. É uma usina que já está em processo de
construção. Estamos tomando todos os cuidados para diminuir os efeito
negativos à população local e para fazer as compensações sociais e
ambientais. O governo está agindo com responsabilidade. Agora, o
direito de protesto, como todos sabem, é livre no país”, disse o
ministro.
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