Surto de ebola completa um ano na RD Congo; ONU pede intensificação da resposta global

por ONU Brasil
Em 6 de dezembro de 2018, em uma creche apoiada pelo UNICEF em Beni, no leste da República Democrática do Congo,  Kavira Langa Jemima, sobrevivente do ebola, dá banho em seu filho de 6 meses em tratamento para o vírus. Foto: UNICEF/Hubbard
Em 6 de dezembro de 2018, em uma creche apoiada pelo UNICEF em Beni, no leste da República Democrática do Congo, Kavira Langa Jemima, sobrevivente do ebola, dá banho em seu filho de 6 meses em tratamento para o vírus. Foto: UNICEF/Hubbard
Oficiais de agências das Nações Unidas pediram nesta quinta-feira (1º) uma resposta global mais intensa e investimentos de doadores para combater o surto de ebola na República Democrática do Congo, que completou um ano. Há duas semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto uma emergência internacional de saúde pública.
No total, houve mais de 2,6 mil casos confirmados, incluindo mais de 1,8 mil mortes em partes das províncias de Ituri e Kivu do Norte. Um em cada três casos envolvia crianças.
“Um novo caso da doença foi confirmado ontem em Goma, com o paciente morrendo posteriormente – o segundo caso confirmado neste mês na cidade de cerca de 1 milhão de habitantes”, disseram os oficiais das Nações Unidas. “Este caso mais recente em um centro populacional tão denso destaca o risco muito real de maior transmissão da doença, talvez além das fronteiras do país, e a necessidade de uma resposta global intensificada”.
O comunicado foi assinado pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus; pelo subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock; pela diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore; e pelo diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA), David Beasley.
No total, mais de 170 mil pessoas foram vacinadas contra a doença, em uma resposta liderada pelo governo e apoiada por agências da ONU e parceiros. Também foram instalados mais de 10 mil locais para higienização das mãos em pontos-chave das regiões afetadas.
Mais de 440 mil pacientes e contatos receberam assistência alimentar, crucial para limitar o movimento de pessoas que podem propagar a doença.
“Agora precisamos manter estas conquistas, mas, para fazer isso, precisamos de mais apoio da comunidade internacional. O governo precisa de mais apoio do que nunca”, disseram. “A resposta de saúde pública a um surto de ebola exige um nível excepcional de investimento; 100% dos casos precisam ser tratados e 100% dos contatos precisam ser rastreados e gerenciados”.
Para isso, segundo o comunicado, é preciso transporte aéreo para levar agentes de saúde e equipamentos essenciais a algumas áreas remotas, além de armazéns para guardar suprimentos, incluindo vacinas.
Uma das dificuldades, no entanto, é o fato de o surto estar acontecendo em uma zona de conflito ativa: uma resposta eficaz se torna ainda mais difícil por conta de insegurança, incluindo ataques armados contra agentes de saúde e instalações, e deslocamento de pessoas.
Segundo as autoridades, a violência impede contato com algumas comunidades em áreas afetadas, impedindo trabalhos para conter transmissões.
“Os desafios para impedir maior transmissão são de fato consideráveis. Mas nada é insuperável. E nada pode ser uma desculpa para não cumprir o trabalho”, afirmaram, ressaltando que as Nações Unidas e parceiros continuam aumentando a resposta de apoio ao governo.
“A ONU está trabalhando para garantir um ambiente que permita resposta de saúde pública que sua agência de saúde apoia, incluindo segurança apropriada, logística, engajamento político e comunitário, e ação para responder às preocupações de áreas afetadas”.

UNICEF precisa triplicar orçamento para combater surto

O UNICEF afirmou na terça-feira (30) que precisa triplicar seu orçamento para responder à complexa crise envolvendo o surto de ebola no leste da República Democrática do Congo, que afetou um número sem precedentes de crianças. A resposta inclui melhorias na resposta geral de saúde pública e a realização de vacinações contra sarampo.
“Esta resposta ao ebola é bem mais complexa porque acontece em uma zona de conflito ativo”, disse Jerome Pfaffmann, especialista em saúde do UNICEF, a jornalistas em Genebra, após sua terceira visita ao país.
Ele destacou que “pessoas nas províncias de Kivu do Norte e Ituri estão enfrentando crises humanitárias e de saúde pública”. Além disso, metade dos centros de saúde em Ituri foi danificada ou destruída ao longo dos últimos dois anos.
O especialista do UNICEF afirmou que dos 2,6 mil casos confirmados de ebola até 28 de julho, mais de 700 eram crianças. Destas, em torno de 57% tinham menos de 5 anos.
“Quando fui embora, havia 12 novos casos confirmados, cinco pessoas estavam vivas e com chances de acesso a tratamento, mas sete haviam morrido na comunidade. Isso é ruim. Ter este número de mortes em comunidades significa que não estamos à frente da epidemia”, disse.
“É sem precedentes ter uma proporção tão alta de crianças afetadas”, afirmou Pfaffmann, acrescentando que ambas as províncias também enfrentam um surto de sarampo.
Até o momento, o UNICEF vacinou mais de 40 mil crianças contra sarampo, mas um aumento de escala massivo é necessário para protegê-las de diversos riscos à saúde.
A agência da ONU planeja colocar em prática um novo plano de resposta estratégica para responder às agudas necessidades humanitárias e sociais. “O UNICEF precisa triplicar seu orçamento para responder a esta crise”, disse Pfaffmann, destacando que “precisamos desesperadamente que a comunidade internacional nos apoie”.
O orçamento inclui cerca de 70 milhões de dólares para atividades de controle da epidemia, 30 milhões de dólares para construção de capacidades comunitárias em áreas de risco e outros 70 milhões de dólares para entrega de serviços essenciais.
Enquanto isso, a agência da ONU continua suas operações com “colegas em comunidades no terreno que estão lutando incansavelmente contra o surto”.
Um dia antes da marca de um ano do surto de ebola na República Democrática do Congo, o especialista destacou a importância de investimentos para manter a epidemia sob controle.
“Este é um alerta. Não pode haver um marco de dois anos”, declarou Pfaffmann, destacando que mobilização comunitária é essencial para conter a propagação do vírus.

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