Catadores X Mecanização
A desconfiança dos catadores é que os materiais estejam sendo destinados prioritariamente às Centrais
A
cidade de São Paulo vive em compasso de espera. Com preço baixo dos
materiais recicláveis e dificuldade de avançar na implantação do Plano
de Gerenciamento de Resíduos da Capital, o trabalho dos catadores está
mergulhado em uma de suas piores crises. Falta infraestrutura para o
trabalho, falta mão de obra nas cooperativas organizadas e falta
material da coleta oficial da Prefeitura de São Paulo.
Algum problema ainda não
identificado pelo poder público está fazendo diminuir a quantidade de
recicláveis que chega às centrais de triagem e aos grupos de catadores
que recebem os resíduos da coleta, mesmo sem contrato com a Prefeitura.
A
desconfiança dos catadores é que os materiais estejam sendo destinados
prioritariamente às Centrais de Triagem Mecanizadas, às chamadas Mega
Centrais. Suspeita ainda não confirmada.
O que foi
planejado e aprovado pelos catadores de materiais recicláveis e pelo
conjunto da população da cidade para ser uma convivência equilibrada
entre o trabalho mecanizado e as cooperativas de catadores está se
tornando um grave problema de sobrevivência.
Não deu certo
A proposta
inicial da Prefeitura de São Paulo era a de que quatro mega centrais
iriam complementar o serviço de triagem dos materiais, elevando o índice
de 1,7% para os 10%, prometidos por Fernando Haddad em campanha. No
entanto, este plano não deu certo. Os equipamentos das mega centrais não
correspondem ao que havia sido oferecido. Das esperadas 250 toneladas
de materiais selecionados por dia, as mecanizadas produzem apenas 70 em
média. A seleção mecanizada está longe de ser de qualidade. Os materiais
que saem das mega centrais são cerca de cinco vezes mais baratos no
mercado, comparado aos materiais que saem das cooperativas de catadores.
O equipamento da Central da Ponte Pequena, por exemplo, seleciona os
materiais em apenas seis tipos diferentes, mas a maior parte dos papéis
fica toda misturada e vendida como Mistão, que é o papel misturado, com
baixo valor no mercado.
Outros
materiais nem chegam a ser separados como denuncia os catadores que
trabalham na Mega da Ponte Pequena. “Material fino, como fios de cobre e
metal, que as máquinas não conseguem separar, está indo para o aterro
sanitário, um absurdo, enquanto os catadores estão passando fome”,
relatou um catador que não quis se identificar, com medo de represaria.
Como a
produção e os preços estão muito aquém do que foi planejado pela
Prefeitura, o dinheiro que se esperava levantar com a venda dos
materiais também não consegue pagar os custos da operação, tampouco paga
as demais cooperativas de catadores que esperavam receber, enfim, pelo
serviço de triagem que realizam gratuitamente para o município. O
resultado é um elefante branco que não se sabe que fim levará.
“Desconfiamos que essas máquinas possam pôr fim ao nosso trabalho”,
declarou outro catador.
Um gargalo
importante da coleta seletiva na cidade é o alto índice de rejeitos nas
centrais mecanizadas. Chegou-se, em certa ocasião, à marca de 70% de
rejeitos nos equipamentos. O problema é que os maquinários não estão
adaptados ao tipo de resíduos brasileiros e à forma de coleta feita
pelas empreiteiras Loga e Ecourbis. Na realidade, os caminhões
compactadores estragam e contaminam o material durante a coleta. Além
disso, não há investimento em educação ambiental para a correta
separação dos resíduos, mesmo estando previsto em contrato, cujas
empresas devem investir 1% do que recebem por esse tipo de campanha.
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