Simpósio conclui que cafeicultura brasileira investe em pesquisa e inovação
Pesquisa, mercado, tendências e oportunidades para a
cafeicultura nacional foram assuntos discutidos durante a 9ª edição do
Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, que terminou nesta sexta-feira
(26/6), em Curitiba (PR). O evento bienal reuniu mais de 500
participantes, de 14 estados brasileiros e dos países Porto Rico e EUA.
No
total foram realizadas 22 palestras divididas em oito painéis
temáticos, além de apresentações de pôsteres com divulgação de recentes
pesquisas desenvolvidas pelas instituições que integram o Consórcio
Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. De acordo com o
gerente-geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, esta edição trouxe pela
primeira vez palestrantes cafeicultores. "São os produtores rurais que
validam as tecnologias geradas pela pesquisa, além de prospectarem novos
estudos", afirma. O cafeicultor Adolfo Henrique Ferreira, relatou sua
experiência com produção de café e mostrou que é possível a viabilidade
econômica na cafeicultura de montanha. "A altitude já é favorável ao
fator qualidade do produto e com adoção de novas tecnologias geradas,
conseguimos melhorar o processo produtivo", ressalta. Adolfo produz café
especial para os mercados interno e externo e disse estar otimista
quanto às oportunidades de mercado que cresceram, significativamente,
nos últimos cinco anos.
De
acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de
Café (Abic), Nathan Herszkowicz, que apresentou mercado e tendências,
nunca se investiu tanto na indústria de cafés no Brasil quanto nos
últimos anos. "O cafeicultor, que investir em qualidade e diferenciação
de mercado, terá uma indústria de grandes investidores pronta para
recebê-lo", ressaltou. Segundo Nathan, até o ano 2000, a ABIC não tinha
nenhuma marca de café especial associada e hoje são cerca de 160 marcas
de café gourmet certificadas pelo Programa de Qualidade do Café da ABIC.
Ele apontou um crescimento de 50% no mercado de monodose de café, que
teve início com o café expresso, com a inovação das cápsulas de café.
"Por sete anos, eram exclusividade de apenas duas marcas. Hoje, cerca de
60 empresas fazem suas próprias cápsulas", afirma.
A
professora da Universidade de Porto Rico, que participa pela primeira
vez do Simpósio, veio em busca de mais conhecimento sobre sistemas
produtivos sustentáveis de café. A bióloga conheceu estudos de café
orgânico realizados, na região Zona da Mata, pela pesquisadora da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) Waldênia
Moura. "Vamos visitar os Campos Experimentais da EPAMIG para conhecermos
mais sobre controle biológico de pragas nesses sistemas, com a intenção
de firmamos parcerias futuras", disse. Desde 2012, a EPAMIG avalia o
comportamento de 22 cultivares de café nos sistemas convencional,
orgânico e agroecológico. "Esse é um trabalho pioneiro no Brasil.
Queremos mostrar para o cafeicultor resultados de diferentes sistemas de
cultivo e ampliar oportunidades de pesquisas", conclui Waldênia.
Biotecnologia para a cafeicultura
A
pesquisadora da EPAMIG Sara Chalfoun, que desde a década de 1980
trabalha com pesquisas em qualidade do café, apresentou recentes
pesquisas sobre bioprodutos inovadores para a cafeicultura. Em 1989,
Sara, juntamente com uma equipe da Universidade Federal de Lavras
(Ufla), reconfirmou a presença do fungo Cladosporium cladosporioides em
lavouras cafeeiras, já relatado pela Ciência na década de 1950, durante
investigações que buscavam compreender a influência de microrganismos
sobre a qualidade do café. De acordo com a pesquisadora, o "fungo do
bem" combate outros fungos prejudiciais à qualidade do café. "Percebemos
que o fungo Cladosporium apresentava ação antagônica nos microrganismos
prejudiciais à qualidade do café por competir com eles por espaço e
nutrientes além de exercer efeitos de antibiose e hiperparasitismo"
explica a coordenadora.
Há
mais de 10 anos, são realizados estudos para desenvolvimento do
bioprotetor do café, a partir de isolados purificados do fungo, para
aplicação em cafezais, em forma de biodefensivo. Devidamente patenteado,
o produto está em processo de registro comercial, mas já é aplicado, em
regime de teste, nas lavouras de todo o Estado. "Estudos mostraram que
em lavouras cafeeiras, em regiões úmidas, o produtor rural pode
valorizar a safra em no mínimo 30% com a utilização desse fungo, que
influencia diretamente na qualidade sensorial da bebida", explica.
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