OPINIÃO | Ciberpolítica e democracia
Artigo do presidente da Liga do Desporto, Jean Gaspar, sobre ciberpolítica
Em tempos de comunicação digital, a
internet pode vir a se configurar como poderoso instrumento que promova a
interlocução de diferentes vozes, debates e trocas de ideia para a definição
dos rumos que nós, brasileiros, queremos para o país.
O Brasil é um dos países com os maiores
índices de crescimento de acesso à rede. Segundo pesquisa do IBGE divulgada em
maio deste ano, o acesso à internet cresceu 143,8%
entre a população com 10 anos ou mais de 2005 para 2011, enquanto o crescimento
populacional foi de 9,7%. Ainda que a maioria dos brasileiros dessa faixa etária
ainda não utilize a rede (53,5%), não podemos desconsiderar o potencial
que a internet apresenta para a política.
Mas seu uso precisa ser revisto pelos
políticos. Nas últimas eleições, os candidatos e
partidos usaram intensamente a internet, mas apenas como mais um instrumento de
difusão de programas, sendo uma extensão das mídias tradicionais, como rádio,
televisão e impressos. Ficou patente a falta de uma maior interatividade entre
os sites de candidatos.
Ao ampliar os espaços de discussão política, menos a sociedade ficará receosa e descrente das ações tomadas por seus representantes
O uso da internet na
política brasileira tem se dado de forma unilateral, via fornecimento de
informações. Seu uso é deficiente em termos de promover a troca ou uma relação
mais próxima com o eleitorado. Não existe praticamente nenhuma interatividade,
ou quando existe é feita por canais fechados de grupos de discussão de difícil
acesso para a maioria da população. Não há espaço para ouvir os pedidos da
população, gerar Fóruns e produzir (e conduzir) cada vez mais e melhor as políticas
públicas.
Segundo sociólogo espanhol Manuel Castells, os governos têm medo
da internet, justamente porque não a conseguem controlar e atualmente são
cobrados de suas ações pela rede. "O problema é que o sistema político não
está aberto à participação, ao diálogo constante com os cidadãos e, portanto,
estas tecnologias distanciam mais a política da cidadania", explica.
Isso, obviamente, desestimula uma participação política mais
efetiva, ainda mais em tempos de Facebook, Twitter, MSN e mensagens via celular.
Aqueles políticos que quiserem sobreviver no meio digital precisam travar uma
relação mais íntima com os usuários da rede. As pessoas já são refratárias à
política e, sem qualquer estímulo, fica mais difícil ainda.
Ao ampliar os espaços de discussão política, menos a sociedade
ficará receosa e descrente das ações tomadas por seus representantes. É cada
vez mais apropriada a utilização da ciberpolítica e é necessário que os
partidos e candidatos encontrem no meio o canal para conseguir o respaldo da
sociedade que eles representam.
O
ciberespaço pode se transformar na Ágora
– praça pública onde ocorriam as assembleias e debates públicos da pólis, a
cidade-Estado da Grécia antiga, sendo portanto símbolo da democracia. Por meio da internet, pode-se potencializar os
debates políticos na atualidade.
Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é apresentador do programa Filosofia no Cotidiano (TV Cantareira) e presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania.
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