No presídio de Coxim, projeto aposta na literatura como “uma porta aberta para o futuro”

Foto: Divulgação/Agepen

Coxim (MS) – “Ler é sonhar pela mão de outrem”. A frase do poeta e escritor português Fernando Pessoa (1888-1935) resume a sensação e as possibilidades proporcionadas pela leitura. E esse prazer de viajar pelo mundo dos livros consegue se tornar ainda mais instigante quando somado ao poder libertador da escrita, principalmente para aqueles que passam os dias cercados pelos muros de uma prisão.
Assim é o projeto “Literatura uma porta aberta para o futuro” que está sendo realizado Estabelecimento Penal Masculino de Coxim, estimulando os reeducandos a não só sonharem, mas acreditarem nas possibilidades de uma vida longe da criminalidade.
A ação acontece há cerca de um mês, sendo coordenada pela poetisa e produtora cultural local Gleycielli Nonato, vencedora da 25ª Noite Nacional de Poesia e autora do livro “Índia do Rio”. A iniciativa consiste no empréstimo de obras literárias aos internos e na produção de textos sob orientação, sendo desenvolvida três vezes por semana no período matutino. “Cada semana, eles trabalham com um estilo textual diferente, produzindo desde gibis, histórias infantis a romances e letras de músicas”, comenta Gleycielli. Dezesseis custodiados participam dos trabalhos.
Na opinião diretor do estabelecimento prisional, Edilson Ferreira, assim como as demais atividades laborais da unidade penal, a leitura e a escrita também ajudam a retirar os apenados do ócio. “E isso contribui e os prepara para o retorno social”, destaca.
 Marcado pelo pensamento positivo e pela criatividade, o reeducando Fábio Ferreira Dias, 35 anos, é um dos que estão se destacando no projeto. Para ele, o projeto serve como uma terapia, possibilitando trabalhar os sentimentos que vêm à tona nesse período de encarceramento. “Ocupa a mente e se torna uma responsabilidade no dia a dia”, enfatiza. O interno destaca o exemplo da poetisa em proporcionar esse ensinamento a eles. “Ela transmite confiança e interesse em ver a evolução dos alunos. Sua força de vontade e humildade vence todos os preconceitos, mostra que todos temos o direito a uma nova chance”, afirma.
  “O ‘curso’ é uma luz nesse lugar, é um jeito de expressarmos nossos sentimentos, bons ou ruins, além de ser uma porta que se abriu para aqueles que não sabiam que tinham essa facilidade com as palavras”, ressalta o custodiado Wevilis Thiago dos Santos Souza, 18 anos, que busca na “sensibilidade apurada” a inspiração para escrever seus textos.
Já o interno Aglaeldo de Araújo, 32 anos, encontrou no projeto de literatura um incentivo para melhorar o comportamento. Com vários problemas disciplinares registrados, foi percorrendo o universo das histórias e da expressão das sensações que o recluso percebeu a importância de se construir uma vida melhor. “Graças à dedicação da professora Gleycielli, aprendemos valores e que só temos a ganhar com isso”, afirma.
Conforme a idealizadora do projeto, a ideia é reunir as melhores criações em um livro. “O resultado da produção de cada dois semestres serão publicado com financiamento do Conselho da Comunidade de Coxim”, informa a poetisa. O material será entregue aos internos e distribuído também a bibliotecas públicas e de unidades penais. A proposta é que mil obras sejam publicadas.
         Fonte: Keila de Oliveira

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