Kickboxing leva Esporte e inclusão social a 40 jovens da Providência

Um dos alunos conquistou o vice-campeonato Brasileiro em 2012

Crianças e jovens ajoelhados no tatame, rezando juntos, em voz alta, e agradecendo por mais um dia de treinamento e de vida. Uma cena bonita, que chega a comover quem está assistindo. A oração marca o final de mais um treino de Kickboxing do Projeto da UPP do Morro da Providência, no Centro do Rio.

- Essa oração ao final é uma demonstração de disciplina. Os alunos gostam de fazê-la e eu acho bacana. Acho importante que eles agradeçam e reconheçam as oportunidades que estão tendo de construir um futuro melhor - disse o Soldado Felipe David, 29 anos, professor do projeto há um ano.

Disciplina e paz. O simples gesto que encerra o treinamento dentro da sede da Unidade de Polícia Pacificadora transmite a tranqüilidade, e os novos tempos vivenciados por mais de 4 mil pessoas, que moram na região. O projeto esportivo renovou as esperanças de jovens que antes estavam à beira da marginalidade.

É na arte marcial de origem japonesa, que combina socos e chutes, que o jovem Yan Nogueira, de 18 anos, deposita toda a sua esperança por uma vida melhor. Ele viu alguns amigos morrerem e outros serem presos por envolvimento com o tráfico de drogas. A mãe, vendo o filho andando com más companhias e já sem esperanças, cansada de tanto avisar, chorou ao pedir mais uma vez, para ele se afastar e seguir outro caminho.

- Eu ficava muito na rua, sem ter o que fazer, vivia junto com pessoas que faziam coisas erradas e vi muitos irem em cana. Minha mãe sabia e sempre me avisava, pedia e eu não dava muito ouvidos. Teve um dia que ela começou a chorar e eu vi o que ela sentia, o medo que ela tinha de eu morrer, de me perder. No mesmo dia um amigo meu levou um tiro e morreu. Depois desse dia resolvi mudar e praticar esporte - contou Yan.

A decisão está rendendo bons frutos. O melhor deles Yan colheu no ano passado. Ele foi vice-campeão brasileiro de Kickboxing, ao disputar pela primeira vez a competição, em São Paulo. O Soldado David organizou uma “vaquinha” na comunidade e conseguiu pagar a passagem para Yan. A recompensa, ele trouxe pendurada no peito.

- Há dois anos comecei no MMA (Artes Marciais Mistas). Quando fiquei sabendo das aulas de Kickboxing, comecei a fazer, há pouco mais de um ano. O professor me incentivou a competir. Eu nunca tinha ido a São Paulo e, graças ao esforço dele e da UPP, consegui viajar e trouxe a medalha de prata para a comunidade. Fiquei muito feliz - disse Yan.

A relação com o professor policial é boa, mas David faz questão de que os alunos entendam que dentro do tatame ele é amigo e está ali para ensinar o Kickboxing, mas do lado de fora, ele é um policial militar.

- Aqui dentro eu sou professor, procuro agir e dialogar de maneira que eles me ouçam e aprendam a arte marcial da melhor maneira possível. Mas na rua eu sou PM e cumpro meu dever como tal. Se eu vir algum dos meus alunos fazendo algo errado e precisar encaminhar para uma delegacia, vou encaminhar. Assim como faria com qualquer outra pessoa. É importante que eles entendam isso e eles entendem. É o primeiro passo para as coisas darem certo - afirmou David.

O projeto está indo bem e além de contribuir para melhorar o convívio entre policiais e moradores da comunidade, as aulas de Kickboxing tiram das ruas quase 40 meninos e meninas de cinco a vinte e cinco anos.

- Nunca imaginei ter aula com PMs. Antes da UPP um policial jamais conseguiria entrar aqui na Providência, para dar aula em um projeto como esse. Minha visão sobre a polícia mudou quando comecei a treinar com policiais. Eu vi que eles não são pessoas ruins, que querem ajudar a comunidade - disse Yan.

Assim como ele, a maior parte dos moradores já aceita e gosta da presença da polícia na Providência.

- Hoje eu ouço crianças dizendo que querem ser policiais. Isso é gratificante - concluiu o Soldado David.  

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