Conferência Ethos: Sociedade civil quer papel decisivo na Rio +20
Ivo Lesbaupin (Abong), Sergio Weguelin (BNDES) e João Sucupira (Pacto Global da ONU) destacam oportunidade de diálogo e Cúpula dos Povos.

“O que é uma economia verde? Isto não está definido. Se nos limitarmos a colocar preços em bens naturais e nos serviços ambientais, esse não é o caminho”, avalia o sociólogo Ivo Lesbaupin, diretor da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (Abong), preocupado com os temas norteadores da Rio+20. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável acontece de 20 a 22 de junho, no Rio de Janeiro, para fazer um balanço da situação ambiental no planeta desde a Eco-92 e elaborar novos acordos para enfrentar os desafios atuais. O encontro mundial está planejado sobre duas diretrizes: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

“Até agora, o documento base busca soluções sem apontar as causas dos problemas”, continua Lesbaupin. Para ele, florestas e água, por exemplo, deveriam ser considerados bens comuns da humanidade. “Não dá para apostar nos instrumentos de mercado para resolver a crise que eles próprios causaram”, conclui.

Ampliar esse debate para além de empresários e governos é crucial para o destino de todos. Segundo Sérgio Weguelin, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nesse ponto o formato da Rio+20 é bastante interessante, pois abre espaço para o diálogo com a sociedade civil. A preparação da conferência da ONU inclui, além da construção colaborativa do texto base, vários eventos prévios. “O governo brasileiro, por exemplo, organizou os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, no Riocentro, entre 16 e 19 de junho, para que as ONGs e as lideranças exponham suas visões e anseios aos governantes participantes da reunião mundial”, comenta Weguelin.

Para ele, não é provável haver a tomada de decisões vinculantes na Rio+20. “Mas podemos sair dali com um caminho, um roadmap para os dilemas”, defende. “Temos a possibilidade de fortalecer uma tomada de consciência. A ocasião vai permitir debates civilizatórios”, comenta.

”Vemos a Rio+20 como uma oportunidade de aprofundar a discussão sobre diversos temas relativos à nossa sobrevivência no planeta”, concorda João Sucupira, do Comitê Brasileiro do Pacto Global da ONU.

Aprofundar para transformar

“O tema oficial da conferência da ONU encerra dentro dele questões muito profundas para serem descortinadas”, continua Weguelin. Para o especialista, o evento mundial pode ser um grande sucesso ou pode não gerar entendimento algum. O resultado é imprevisível. Mas a iniciativa favorece um longo processo de ajustes. Ela traz para o consciente coletivo os desafios atuais e coloca o desenvolvimento sustentável no DNA da sociedade. “O mundo está acordando para isto”, declara.

Na sua visão, um dos pontos altos das discussões preparatórias, será a Conferência Ethos Internacional 2012, que ocorre em São Paulo, de 11 a 13 de junho, com o tema geral “A Empresa e a Nova Economia. O que muda com a Rio+20?”. “Ali se reunirão pessoas que já param para pensar sobre os rumos desta época. Seu olhar sobre a Rio+20 será muito mais intenso”, avalia. Além de “colocar as empresas na roda”, como ele afirmou, o encontro promovido pelo Instituto Ethos também será um termômetro e permitirá a definição de estratégias para gerar a transformação necessária. “Sem a Conferência Ethos, as empresas não teriam esse preparo”, observa.

“Espaços assim são importantes. Esta é uma iniciativa louvável”, reforça Lesbaupin. Ele lembra que a mobilização do Instituto Ethos já contribuiu para a construção do rascunho zero da Rio+20 e trouxe críticas boas na construção desse documento, que passou de 20 para 270 páginas e norteará as discussões oficiais. “A Conferência Internacional Ethos 2012 pode aprofundar a discussão sobre os temas debatidos na Rio+20, trazendo o meio empresarial para o debate e também levando-o a repensar suas formas de conduzir seus negócios”, complementa Sucupira.

Soluções práticas
“Ainda sobre a Rio+20, se olharmos para as três últimas conferências da ONU, a expectativa não é boa. Os resultados foram lamentáveis diante da gravidade da situação, pois geraram pouco avanço”, alerta Lesbaupin. “Contudo, a Cúpula dos Povos pode funcionar melhor para os objetivos visados. Ela mostrará soluções que já estão em prática”, analisa o diretor da Abong, referindo-se ao espaço agregador de mais de 150 ONGs que se instalará de 13 a 22 de junho no Aterro do Flamengo, na capital fluminense, com participação livre em mostras e atividades diversas.

Ali, tecnologias ambientais e sociais serão demonstradas, servindo como um excelente pano de fundo para mudanças de visão de mundo. “Precisamos modificar, por exemplo, como medimos ou olhamos para os resultados”, acrescenta Weguelin. “Espero que em ambas as conferências, a do Ethos e a Rio+20, tenhamos a oportunidade de trocar muitas experiências com parceiros”, completa João Sucupira.

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